18. Um dia no brechó escolar

Faço parte de um grupo de pais de alunos da escola dos meus filhos que resolveu organizar o reaproveitamento e uniformes e material didático.

Sabe como é: as crianças crescem, passam de ano e deixam para trás roupas em bom estado, livros quase novos, pastas, fichários etc. Faço parte da organização de pais da escola onde meus filhos estudam e, antes do início das aulas, nosso grupo resolveu criar uma rede de doações e encaminhamento de uniformes, livros e materiais para serem reutilizados. Os objetivos eram estimular a solidariedade, poupar dinheiro e também cuidar do meio ambiente, evitando que isso tudo fosse parar no lixo ou na reciclagem (o que, na minha opinião, é quase a mesma coisa e no mês que vem explico por quê).

Cinco voluntárias, eu entre elas, se revezaram em um plantão dentro da escola durante um dia inteiro. Tivemos um apoio bem bacana da direção, que forneceu uma mesa enorme onde montamos nossa barraquinha, ou melhor, nosso eco-balcão. As pessoas chegavam com suas sacolas e nós separávamos as roupas por tamanho e tipo, colocávamos de um lado os livros e do outro as pastas. Foi interessante perceber a reação dos adultos e das crianças a essa proposta. Muita gente parecia se sentir aliviada por doar aqueles itens que certamente estavam atulhando seus armários em casa e corria para comprar materiais e uniformes novos, sem ao menos dar uma olhada nas peças seminovas (algumas em perfeitíssimo estado) que tínhamos para fornecer de graça. Outros ficavam muito felizes em remexer nas pilhas e sair dali com diversas calças, camisetas, casacos, bermudas sem pagar absolutamente nada. Sem falar no material didático…

A escola também teve uma ótima iniciativa: incentivar os pais e os alunos a reaproveitarem as pastas e cadernos do ano anterior, além de colocar todos os itens comprados em sacolas de pano que puderam ser devolvidas no primeiro dia de aulas e ficarão reservadas para o mesmo uso em 2011.

No final do dia, sobrou muita coisa. Percebemos que, pelo menos para o público daquele colégio particular, a ideia da doação é muito mais fácil de digerir do que a de reutilizar coisas que foram de outras pessoas. As crianças, em geral, preferiam ir à loja em vez de xeretar nossas ofertas. No entanto, quando a mãe ou o pai demonstravam não ter preconceito com itens usados, a resistência inicial logo desaparecia e comprar sem pagar virava uma brincadeira.

Eu mesma aproveitei bastante o brechó escolar. Apareci lá antes do meu horário de trabalho, acompanhada dos filhos, e peguei todo o uniforme de que precisava e alguns materiais didáticos. Como reaproveitei tudo o que era possível do ano anterior, gastei 1/3 do valor total da lista de compras e R$ 0 em roupas.

No ano que vem, pretendemos ampliar e aperfeiçoar essa ação. E esperamos atrair mais “clientes”, com generosidade tanto para doar quanto para receber doações. As contas bancárias e a natureza vão se beneficiar com esse gesto. Mas o principal lucro será treinar as próximas gerações a estabelecer uma relação de usuário-temporário (e não apenas de consumidor) com tudo o que está no planeta. Se conseguirmos substituir o ciclo do comprar/usar/jogar fora pelo de receber/usar/cuidar/doar, deixaremos um mundo muito melhor para nossos filhos.

One thought on “18. Um dia no brechó escolar

  1. Olá Claudia!
    Quando os meus filhos estudaram em um colégio particular de origem alemã aqui na região também tive esta preocupação, e reaproveitamento de material didático e uniformes. Mas, pelo menos naquela ocasião, não foi possível implantar esta idéia, porque afinal, trata-se da classe média e alta… além disso a papelaria do colégio não lucraria com nada com esta idéia.
    Meus filhos cresceram, o mais velho se formou no ano passado, e a mais nova é universitária. Então percebi, que aquela idéia de dar um “bom exemplo” de consciência ambiental e social, neste caso, não se concretizou.
    Fui a caçula de uma família de classe média com mais dois irmãos. Meus pais, que sobreviveram à 2. Guerra Mundial (lembra-se?) sempre incutiram o espírito do “não-desperdício”, “ninguém sabe o dia de amanhã”, etc. e assim, as roupas da minha irmã mais velha, era transformada em uma “nova” peça para mim.
    Lembro-me quando tinha 15 anos e fui morar um ano na casa da minha avó na Europa. Na minha mala eu tinha apenas algumas poucas peças de roupas, e um a dois pares de sapatos. Nenhum tênis, acho que uma calça comprida, nenhum jeans. E eram suficientes para mim. Mas quando cheguei lá, descobri, a infindável oferta de grifes, e lojas de departamento, e a “febre” de consumo.
    Agora temos que fazer o caminho inverso. Nos livrar da maioria dos objetos superflúos que nos cercam. E antes de qualquer compra, nos perguntar, se realmente necessitamos daquele produto. E assim, pouco a pouco, vou adiando a compra, e vejo que realmente não me era necessário…
    Uma vez, o meu sogro, me disse uma coisa que nunca mais esqueci, e de vez em quando me vem à cabeça: Devemos ir atrás da “vida simples”.
    Com certeza, como você comentou em outro artigo, a posse dos objetos dá trabalho e complica a vida!!
    Beijos,

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