42. O cigarro do século XXI

22 de setembro (4ª feira) é o Dia Mundial Sem Carro. Que tal uma caminhada na rua para refletir sobre nossa dependência dos automóveis?

Não sei de quem é a frase “O carro é o cigarro do século XXI”, mas achei genial. Realmente, há uns 100 anos fumar era uma atitude sexy, que tinha a ver com sucesso, inteligência, liberdade, masculinidade e, posteriormente, liberação feminina. O recado subconsciente das baforadas era “sou dono do meu nariz, uma pessoa bem resolvida”. 

Qualquer semelhança entre a linguagem e os símbolos utilizados na publicidade da era de ouro do tabagismo com as propagandas de automóveis hoje em dia não é mera coincidência. Eu acredito nisso e não estou sozinha. Nos meus arquivos, tenho uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo, que noticia, em 29/5/2008, o projeto de restrição à publicidade de automóveis na União Européia. A proibição valeria, entre outras coisas, para conceitos como “prazer de dirigir”. De lá para cá, não consegui mais rastrear o assunto e fiquei sem saber se está valendo. (Andréia, minha querida amiga que está fazendo pós em Londres: vc tem alguma informação a esse respeito?)

Foi na Europa que surgiu o Dia Mundial Sem Carro. Desde 2000, um movimento chamado World Carfree Network (www.worldcarfree.net) promove em todo o mundo ações para valorizar opções coletivas ou alternativas de transporte urbano (ônibus, metrô, andar a pé ou de bicicleta). No ano passado, mas de 1.000 cidades em 40 países participaram, incluindo o Brasil.

É claro veremos na mídia quase todo mundo tripudiando em cima da data. Alguns políticos posarão para foto apertadinhos no ônibus (os mesmos que não investem em transporte público) enquanto as ruas estarão congestionadas como sempre. Nas edições passadas do Dia Mundial Sem Carro, o clima das conversas era de ceticismo. Ouvi várias vezes comentários do tipo “Tá vendo como isso não funciona? He, he, he!”. Nessas horas não consigo responder, mas fico pensando: claro que não funciona, só os poucos “eco-xiitas” levam a sério…

Sinceramente, não entendo qual é a graça em torcer contra essa iniciativa. Aqui em São Paulo vivemos um final de inverno desértico e poluído por duas razões: falta de árvore e excesso de carro na rua. Os pronto-socorros ficaram lotados de pessoas com problemas respiratórios e a indústria automobilística acha que a média de um automóvel para cada sete pessoas no Brasil ainda é muito baixa (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1409201005.htm) . O objetivo desse pessoal é chegar a 2 carros por habitante, como nos Estados Unidos.  

Com dois filhos para levar a inúmeras atividades, eu infelizmente não consigo (ou não tento o suficiente) viver sem automóvel. Mas pretendo fazer um modesto ritual anticarro na quarta, como no ano passado. Em 2009, meus filhos e eu comemoramos a data voltando da escola a pé. São cerca de 2 km. A ideia foi minha e as crianças, obviamente, reclamaram bastante no começo. Mas os resmungos aos poucos foram dando lugar a uma conversa interessante sobre o dia-a-dia das pessoas que não têm carro e sobre os outros meios de transporte que existem. No meio do caminho, paramos na padaria para um lanche. Foi um passeio maravilhoso.

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