45. Existe moda ecológica?

É para desconfiar de roupas com preços irresistíveis. O circuito fast-fashion detona o meio ambiente e há muitas grifes que exploram trabalho semi-escravo. Seria melhor comprar menos e melhor.

Nada fácil casar moda e sustentabilidade. O ambientalismo prega a redução do consumo enquanto a indústria da moda inspira compras compulsivas, mudanças no jeito de vestir a cada estação e o descarte contínuo do que possuímos.

Nem sempre foi assim. Há um século, as ondas estéticas duravam mais e a maioria das mulheres de classe média vivia com três ou quatro vestidos, algumas roupas de baixo e um par de sapatos (às vezes nenhum). Nada mais. Só uma rainha louca teria centenas de peças no guarda-roupa, como é o meu caso. Há alguns anos, tive uma crise de consciência ao fazer a organização geral do armário e fiquei muito mais criteriosa. Joguei fora a ideia do efêmero e aderi a um estilo atemporal. Agora, quando compro algo, é para durar para sempre.

Para quem quer diminuir o próprio impacto ambiental, recomendo antes de tudo parar um pouco com as comprinhas e inventar novas maneiras de usar o que já tem. Vale cortar, costurar, tingir. Quando o desejo de oxigenar o guarda-roupa for imperioso, que tal percorrer brechós e trocar entre amigos? Essas alternativas valem sobretudo para as crianças, que crescem rápido e às vezes não conseguem sequer estrear aquela roupa fofa tinindo de nova. Sapato, então, nem se fala. Fazer um circuito de doações de roupas infantis e incluir os uniformes escolares na parada estreita laços de amizade e ensina a próxima geração a reduzir, reutilizar e reciclar.

Meus filhos estão grandinhos e já usam camisetas que foram minhas. Peças femininas infantis demais para a quarentona aqui estão numa caixa, esperando a Julieta crescer. Na verdade, algumas bolsas já reestreiaram no circuito das baladas, pois temporariamente moram no armário da sobrinha adolescente Paula.   

As grifes têm repisado o tema sustentabilidade em seus catálogos, decoração de lojas e propagandas. Em geral, apenas um verniz verde para encobrir práticas predatórias em todos os sentidos. Não me empolgo com embalagens de papel reciclado, anúncios cheios de mato e ações do tipo “esse jeans salva golfinhos”. Muitas vezes, o produto em questão atravessou o mundo num navio cargueiro fumacento e explorou trabalhadores semi-escravos no interior da China ou num porão do Bom Retiro. Sem falar nos milhares e milhares de litros de água usados para irrigar as plantações de algodão e nas toneladas de agrotóxicos que foram despejados.

É para desconfiar da moda descartável com preços irresistíveis. Seria melhor investir nas empresas que tentam produzir destruindo menos e praticam o comércio justo. Obviamente, custa mais preservar o planeta e remunerar razoavelmente as pessoas. Mas a conta não sairá mais cara, pois a ideia é trocar quantidade por qualidade.

Se vai às compras, pelo menos dê uma força para quem busca alternativas sustentáveis de verdade.
Andando pelo meu bairro, na Zona Oeste de São Paulo, descobri algumas lojas que têm iniciativas bacanas como vender itens usados ou reformados, reciclar matérias primas e usar tecidos produzidos organicamente e tingidos com pigmentos naturais. Vale a pena conhecer. E se você tiver outras sugestões, avise.

Éden (linha completa de moda masculina e feminina) – http://www.edenorganic.com.br

Super Cool Market (roupas usadas atuais e de marcas famosas) – http://www.supercoolmarket.com.br/

Tiê Moda Ecológica (camisetas e acessórios) – http://www.tiemodaecologica.com.br/

Amoreira (presentes) – http://www.amoreira.com.br/

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