52. Para onde mando meu lixo?

A coleta seletiva oficial é péssima. Os catadores recebem tão pouco pela tonelada da sucata que não vale a pena carregar os resíduos. Fui conversar com especialistas para saber por que tanta coisa está dando errado na reciclagem. 

Por vários anos, periodicamente eu enchia o carro com materiais recicláveis para levar a um ponto de coleta. Nos primórdios, só a USP recebia, depois passei a enviar ao Pão de Açúcar, pioneiro entre os supermercados nesse terreno. Até que apareceu a coleta seletiva na porta de casa e me senti livre dessa obrigação. Mas eu estava enganada. Em São Paulo, caminhões inteiros com sucata que a população organizou e limpou vão direto para o lixão, seja porque as poucas cooperativas que a prefeitura cadastrou não dão conta ou porque o próprio caminhão compactou e misturou tudo, inviabilizando a separação (para saber mais detalhes: http://conectarcomunicacao.com.br/blog/20-reciclando-problemas/) .

Então decidi arranjar outro destino para o meu lixo. Caixinhas de papelão, embalagens plásticas, tampinhas, rolhas, palitos de sorvete e outros objetos simpáticos vão para a oficina de artes da escola das crianças. Já transformei potes, cestinho de bicicleta enferrujado, galão de água e até mochila em vaso para as plantas da horta (http://conectarcomunicacao.com.br/blog/50-plantei-pimento-na-mochila/) .  Doei um lote de embalagens vazias de sorvete e requeijão para a Gislene e diversos vidros transparentes para a Elza. Conheci virtualmente ambas no grupo São Paulo Freecycle (http://conectarcomunicacao.com.br/blog/41-encontro-na-metrpole/) . Jornais velhos viraram cama para os cachorros abandonados do centro de adoção da loja Cobasi. Mesmo assim, sobraram garrafas, latas e embalagens plásticas. Comecei a guardar essas coisas no escritório e abordei alguns catadores que circulam pelo bairro perguntando se eles não queriam o material. A resposta foi não, pois o preço das sucatas anda muito baixo e não vale a pena carregar. Pesquisando no site do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem – http://www.cempre.org.br/serv_mercado.php), descobri que eles têm razão, pois a indústria paga por tonelada apenas R$ 380 pelo papelão, R$ 150 pelas embalagens longa vida, de R$ 80 a R$ 120 pelo vidro. O valor de 1.000 quilos de alumínio é R$ 2.300, mas são necessárias quase 70 mil latas para chegar lá.     

Aí entrei em contato com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis para saber como enviar de verdade os resíduos para a reciclagem. A orientação é a seguinte: leve você mesmo o material a uma Cooperativa de Catadores (para saber onde ficam: 11/3399-3475, secretariasp@mncr.org.br, http://www.mncr.org.br/ ) ou a um Ecoponto da Prefeitura (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/servicos/limpurb/ecopontos/index.php?p=4626) ou aos postos de coleta dos supermercados.

Angustiada pelo engodo da reciclagem oficial, pela baixa remuneração dos catadores e pelas notícias que chegam a toda hora alertando para a saturação dos aterros, procurei duas especialistas no assunto. Veja o que elas dizem…

Elisabeth Grimberg, coordenadora do Instituto Polis (http://www.polis.org.br/): “Em São Paulo a coleta seletiva teve início em 2001, tendo sido criadas 15 cooperativas conveniadas com poder público. Porém, de 2004 até hoje, apenas duas novas unidades de triagem operadas por cooperativas de catadores foram acrescidas ao programa que se mantém com 1% de recuperação de resíduos, o que revela a deficiência do sistema e o baixo empenho da prefeitura em ampliá-lo. As associações de catadores é que merecem crédito pelas 2.500 toneladas de resíduo que são encaminhadas diariamente para a reciclagem pelos cerca de 20 mil catadores que atuam na cidade.”

Araci Martins Musolino, coordenadora do Instituto Gea (http://www.institutogea.org.br/):  “É necessário que os cidadãos, as empresas e as prefeituras se esforcem para melhorar a coleta seletiva. Mesmo assim, a prioridade deve ser reduzir o consumo e reutilizar o que já possuímos. A reciclagem não pode ser a primeira opção, pois o planeta não tem condições de sustentar o atual padrão de consumo da humanidade mesmo se fosse possível reciclar 100% dos resíduos.”

One thought on “52. Para onde mando meu lixo?

  1. Claudinha,
    muito útil o texto. Mas fica a questão: será que as coletas dos supermercados são eficientes? Tenho a impressão que sim. Ou pelo menos espero, pois é esse o destino do lixo reciclável aqui de casa. bj
    Fernanda

  2. Nossa Cláudia, fiquei bem triste de ler essa matéria. Melhor o conhecimento do que a ignorância, mas não consegui deixar de pensar que algo que poderia dar tão certo no sentido de ser uma possível solução para nosso lixo, além de ser fonte de ganho para os catadores e cooperativas, é uma furada!
    Fico então com uma angústia e uma interrogação do que fazer agora com relação a minha proposta de reciclagem no meu condomínio. Sugestões???

    Abraços

  3. Thaís,
    Não desanime! A gente tem que continuar preparando o lixo para a reciclagem e cobrando do governo e das indústrias que façam isso direito. Eu não confio no caminhão oficial, então levo toda a sucata da minha casa no muque para o posto de coleta do supermercado. Também não é garantido que o material seja reciclado, mas a chance é maior. Amanhã (2/8) haverá um encontro sobre esse assunto na Vila Madalena: http://emailmkt.entrelinhas.net/emkt/tracer/?1%2C524458%2CFCB_acba91ec%2C965f. Não vou poder ir mas recomendo. Se você for, me conta TUDO depois? Bjo!

  4. Claudia,

    emocionei agora ao ver a citação da Araci do Instituto Gea no texto acima. Patrocinamos o Gea nos primórdios!! Nossas embalagens levavam o símbolo e contato do Gea!! Depois perdemos o contato… feliz em saber que continuam na ativa!!

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