78. Milho transgênico, quentão e lixo industrializado

As festas juninas se tornaram mais uma ocasião para se entupir de comida ruim e distribuir brindes desnecessários, descartáveis, de péssima qualidade e potencialmente tóxicos.

Há alguns anos, estávamos saindo da quermesse da escola quando duas crianças pobres vieram em nossa direção. Meus filhos tinham nas mãos algumas prendas e na mochila eu guardava tantos outros brindes recém-conquistados por eles. Baixinho, sugeri que doassem um brinquedo para cada um dos meninos que se aproximaram. Recusaram-se e eu respeitei a decisão. Meses depois, ao arrumar os armários, encontrei várias daquelas bugigangas intocadas, ainda na embalagem.  Dessa vez não teve conversa: os badulaques foram diretamente encaminhados para doação.

Chegou de novo o momento em que os colégios organizam as festas juninas e, antes do grande dia, convocam os pais a comprar e entregar as tais prendas. Fico bem desconfortável com isso. Percebo que, em geral, as crianças de classe média possuem brinquedos demais e esse excesso de objetos até dificulta (em vez de facilitar) as brincadeiras. Antigamente, a tradição de presentear os participantes fazia todo o sentido. Afinal, as pessoas viviam no campo, sem acesso a produto algum, incluindo brinquedos. Nesse ambiente espartano imagino que receber um brinde era uma emoção enorme. Já na sociedade hiperconsumista em que vivemos, os festejos típicos da época viraram mais uma ocasião de desperdício e de consumo desenfreado de junk food.

Embora não queiram de verdade o que trazem para casa, percebo que durante o evento as crianças (e até adultos!) tentam acumular o maior número possível de prendas. Não seria melhor aproveitar a pesca, a argola, o rabo do burro e tantas outras atrações apenas por prazer, sem receber nada em troca?

Além da quantidade, há o problema da qualidade. Predominam as tralhas de plástico vagabundas, geralmente fabricadas na China. Esse tipo de produto costuma ter matéria prima inferior e potencialmente tóxica, além de muitas vezes ser fruto de exploração de trabalhadores e esquemas de pirataria e contrabando. Ou seja, uma tragédia socioambiental completa (Mais detalhes em http://conectarcomunicacao.com.br/blog/55-brinquedos-envenenados/).

Eu gostaria que as escolas e os pais transformassem as festas juninas num evento menos consumista. Isso significa valorizar o lado cultural das nossas tradições e não oferecer objetos supérfluos e embalagens descartáveis.

Podíamos aproveitar a ocasião para homenagear nossas raízes gastronômicas proibindo o fast-food, os agrotóxicos e os transgênicos. Já pensou que lindo uma quermesse com quitutes feitos em casa pelos participantes utilizando apenas ingredientes orgânicos da agricultura familiar?

One thought on “78. Milho transgênico, quentão e lixo industrializado

  1. Que tal preparar as prendas na escola? Um poema, uma pintura, um artesanato, uma escultura de argila… Tá faltando sentido pra as coisas. Até rezar ou meditar pode ser feito no automático, não é mesmo, num impulso consumista. Muito ruim que a escola esteja propagando esse tipo de alienação e formando comunidades vazias de sentido de verdade. Parabéns pelo olhar atento

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