80. Precisamos de uma Marcha do Orgulho Eco?

Quem se engaja nas causas ambientais está sob constante ameaça de ser chamado de chato ou xiita, além de virar alvo das piadinhas. Vale a pena conferir o que Cacique Seattle (em 1854) e David Suzuki (em 2011) dizem sobre o que é ser ecológico.

Descobri David Suzuki outro dia, quando um amigo postou no Facebook um link para o texto “The Nature of Environmentalism”. Cientista canadense de ascendência japonesa, já recebeu diversos prêmios internacionais, publicou 52 livros, é uma celebridade verde em seu país e estrela de primeira grandeza no circuito universitário, além de dirigir a fundação que tem seu nome.

Descobri Cacique Seattle quando era adolescente. Na parede da lendária sorveteria Rocha (no centrinho da então pequena e pacata São Sebastião, litoral norte de SP) estava uma folha de jornal amarelada com sua famosa carta de 1854 em resposta à oferta do presidente norte-americano Franklin Pierce para compra das terras de seu povo, o Duwamish, localizadas onde hoje é o Estado de Washington, fronteira com o Canadá no extremo oeste.

Suzuki está no topo da carreira acadêmica. Seattle foi um índio que vivia da caça e da coleta. Suzuki escreve em um computador e seus textos imediatamente circulam pelo mundo através da internet. Seattle apenas discursava para seu clã e sua famosa carta foi compilada por testemunhas. Embora cerca de 30 anos tenham se passado, tive a mesma sensação iluminadora ao ler os dois textos, que reproduzo em parte abaixo. 

Cacique Seattle, 1854:
“Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia – são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem – todos pertencem à mesma família. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro.

A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.”                                                     
Veja o texto completo e sua história: http://www.ufpa.br/permacultura/carta_cacique.htm

David Suzuki, 2011:
 “Ambientalismo não é uma profissão ou uma ciência; é um jeito de ver seu lugar no mundo. É reconhecer que vivemos num planeta onde tudo, incluindo nós mesmos, está interconectado e é interdepentende de todo o resto.

A água se move do oceano para o ar e para a terra, ao redor do mundo, ligando todas as formas de vida por meio do ciclo hidrológico. Ao inspirar, absorvemos oxigênio proveniente de todas as plantas da terra e do mar, e também tudo o que é expelido de todas chaminés das fábricas e dos veículos. A teia de todas as coisas vivas faz parte dos processos que reabastecem e restauram o ar, a água, o solo e a energia. Nessa maneira de ver o mundo, não somos apenas receptores dos presentes mais vitais da natureza – somos participantes de seus ciclos.

 Tendemos a pensar nos ambientalistas como pessoas preocupadas com a natureza ou uma espécie em extinção ou um ecossistema ameaçado. Ambientalistas são acusados de se preocupar mais com as corujas malhadas ou árvores do que com as pessoas e os empregos. Isso é um absurdo. Vendo um mundo interconectado, nós entendemos que as pessoas estão no coração da crise ecológica global, e que a genuína sustentabilidade significa também lidar com questões de fome e pobreza, desigualdade e injustiça, terrorismo, genocídio, e guerra, porque enquanto essas questões confrontarem a humanidade, a sustentabilidade não será prioritária. 

No nosso mundo interconectado, todos esses temas são parte do caminho insustentável que trilhamos. Se quisermos encontrar soluções, precisamos ver o cenário como um todo.”
Veja o texto completo, em inglês: http://www.themarknews.com/articles/5742-the-nature-of-environmentalism

One thought on “80. Precisamos de uma Marcha do Orgulho Eco?

  1. Boa tarde, Claudia, quando conversamos a algum tempo você me disse que dav apoio a iniciativas sustentáveis. Bem, não estou cobrando, mas pedindo, caso seja possível, que você me passe telefones de algumas empresas que compram resíduos reciclados. Lembro-me que tinha te falado que eu planejava fazer uma campanha do gênero aqui, incentivo à coleta seletiva. Em conversas com a cooperativa, que existe a alguns anos, percebi que estão com problemas para encontrar comprador, principalmente destino final, eles acabam tendo que vender para empresas que vão encaminhar o material, assim os preços caem. Se tivermos compradores da indústria, vamos melhorar significativamente a vida daqueles catadores que estão ganhando algo em torno de 400 reais mensais. Nem posso aumentar o material de coleta, ppois acabaria ficando no depósito, ocupando um espaço que já pequeno. Eu estou desempenhando esse papel em nome deles, mas eu também estou com dificuldade, ainda não conheço bem as empresas que atuam no ramo, principalmente aqui da região oeste da grande São Paulo. Se encontrarmos compradores certos, passatemos para o próximo estágio, a campanha, para aumentar o volume de material reciclado no município. Peço encarecidamente sua ajuda.

    Maycon Queiroz

  2. Oi Maycon, tudo bom?
    Concordo com vc que os catadores são heróis e merecem todo o apoio para melhorarem suas condições de vida e trabalho. Não tenho contato de empresas que compram materiais recicláveis, mas nesse post http://conectarcomunicacao.com.br/blog/52-para-onde-mando-meu-lixo/ você encontra algumas reflexões a esse respeito e o contato do Movimento Nacional e dos Institutos GEA e Pólis, que têm ótimos projetos nessa área. Espero que ajude… Abs!

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