100. Isso é férias?

Falta de preparo para lidar com a chuva causa tragédias. Esgoto polui praias. Superlotação atrapalha passeios. Por essas e outras, guardei a mala e agora quero aproveitar muito o verão sem sair da metrópole.

Nas últimas semanas viajei duas vezes, por poucos dias e sem percorrer grandes distâncias. Enquanto estive longe de casa, assisti ao vivo, pela TV e nos jornais os dramas do verão. Pavorosas notícias sobre inundações, deslizamentos, soterramentos e acidentes de automóvel. Melancólicos informes sobre a poluição em diversas praias do litoral paulista, com a CETESB sugerindo aos cidadãos ficar longe do mar nesses locais (relatórios atualizados em http://www.cetesb.sp.gov.br/qualidade-da-praia). Fiquei pensando nas pessoas (em especial as crianças) que tanto sonharam com mergulhos nas ondas e agora correm o risco de adoecer. Isso sem falar nos congestionamentos em estradas, na lotação absurda dos aeroportos e das atrações turísticas. Subir no Cristo Redentor pode demorar até 8 horas e famílias inteiras atolam nas filas dos brinquedos da Disneyworld. Ouvi dizer que os outlets da Flórida estão abarrotados, mas da turma enjaulada nas lojas não tenho pena. Larguem as compras e vão passear! Até mesmo os bistrozinhos descolados parisienses andam servindo comida congelada, relata a cronista chique Danuza Leão (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danuzaleao/1031334-paris.shtml).

Já ouvi pessoas que repudiam a democratização do turismo fazerem comentários do tipo “O aeroporto está parecendo uma rodoviária”. Não concordo com essa postura. Seria ótimo se todos os 7 bilhões de seres humanos pudessem veranear em praias desertas e conhecer as grandes maravilhas do planeta. No entanto, não há como fazer de forma sustentável o deslocamento de multidões ávidas por consumo e experiências inesquecíveis. O turismo está entre os muitos comportamentos sociais que caducaram diante da situação atual da humanidade no planeta. Aliás, o próprio conceito de férias como válvula de escape para um cotidiano massacrante já demonstra o grau de desequilíbrio em que vivemos.

Mesmo sabendo que opiniões assim fazem com que nós, os ecochatos, tenhamos conquistado a fama de estraga-prazeres, está difícil ficar quieta diante de tanta confusão. Quero ser feliz todos os meses do ano e todos os dias da semana, sem muita distinção entre o que é trabalho e o que é lazer, o que é estudo e o que é diversão.

Vou aproveitar o que resta da temporada passeando nos parques e praças de São Paulo, encontrando os amigos com calma, indo ao cinema, ouvindo música, lendo, cozinhando e, é claro, cuidando das plantas. Oba!

One thought on “100. Isso é férias?

  1. Pois é… Bem realista a sua colocação, Claudia. E o pior de tudo é que a maioria das pessoas se sente bem em meio a todo esse caos e acha que é natural “curtir” a temporada de férias assim. Vai entender!!!!!

    1. Fiquei triste ontem no jornal vendo a matéria sobre as praias que ainda são desertas no litoral de SP. O pessoal vai caçando até o último grão de areia não pisado, para fazer tudo entrar no roteiro conhecido “vinha aqui quando não tinha luz/surgiu uma pousada bacana no meio do nada/a galera vai para lá nesse verão/chegou o ônibus de farofeiro e não dá mais para ir”.

  2. Muito bem observado. É impressionante nossa capacidade de “não” ver as coisas… está todo mundo tão ‘convencido’ de que férias TEM que ser bom, que as pessoas se atulham nos lugares onde a experiência é supostamente ‘garantida’… Imagino que se parassem e analisassem por um instante, iriam se dar conta de que estão é passando trabalho e pagando caro por coisas nem tão boas assim. Ou pior: pela obrigação de ter prazer… O ser humano é um bicho complicado…

Deixe um comentário para Claudia Visoni Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *