146. De onde vem a comida?

Cada garfada tem muita história para contar. De onde vem aquele alimento? Quem produziu? Como? Onde? Como foi a comercialização e o preparo? Comer é um ato político, como diz Michael Pollan. E também um ato de amor ou desamor, digo eu. Apostando na primeira opção, fiz de comprar, plantar e cozinhar comida natural, fresca e sem veneno uma prioridade. Sim, gasto bastante tempo, dinheiro e energia nisso. E acredito que não existe maneira mais poderosa e saborosa de mudar o mundo.

O outro lado da moeda infelizmente é o mais comum ainda. A tal praticidade tão valorizada pelo supermercado e pela indústria alimentícia causam altos impactos sociais, ambientais e de saúde. Não por acaso as embalagens e a publicidade fazem de tudo para apagar ou forjar a história dos alimentos que nos empurram. Se os rótulos estampassem as fotos reais de cada etapa de produção, as grandes indústrias do setor e big varejistas iriam à falência. Não faltariam cenas de crueldade animal, destruição de florestas, uso de agrotóxicos, exploração de trabalhadores e manipulação química, entre outros horrores. Por isso evito ao máximo tanto o supermercado quanto os ingredientes convencionais e a comida processada.

Pensei tudo isso quando estava prestes a devorar o prato da foto. Almocinho caseiro feito na hora por mim mesma, num dia mais do que comum. Então resolvi contar a história de cada ingrediente…

A porção verde é composta de caruru e mostarda colhidos minutos antes no quintal de casa. O caruru é uma PANC (Planta Alimentícia Não Convencional), aquilo que as pessoas chamam de mato e geralmente arrancam. Espécie que nasce sozinha sem ninguém plantar, dá até em fresta de calçada. Parente do amaranto, é muito rica em proteína. A mostarda é de uma variedade roxa, cuja semente ganhei do mestre permacultor Peter Webb. Além de plantar em casa, coloquei vários pés na Horta das Corujas, uma horta comunitária na Vila Madalena onde trabalho voluntariamente. Se você passar por lá, siva-se. Mas retire só as folhas que vai usar e deixe a planta na terra continuar produzindo para que outras pessoas também tenham essa oportunidade.

Ao lado, arroz integral com lentinha, pimentão, pimenta, cúrcuma e alho poró.

Vamos por partes:
O arroz integral orgânico Volkman veio do Rio Grande do Sul. É cultivado por uma família dedicadíssima à agricultura biodinâmica. Há anos encomendo dessa marca para o Sítio A Boa Terra (www.aboaterra.com.br), que faz entregas domiciliares semanais de orgânicos em casa. Mas esse arroz foi ainda mais especial, pois minha amiga Thais Mauad organizou uma compra coletiva. Além de sair mais barato, adorei a sensação de fazer parte da turma.

A lentilha veio do supermercado mesmo, assim como o azeite usado no preparo. Nunca achei lentilha orgânica para comprar e estou atrás. Se você souber quem vende, por favor me avise.

Pimentão verde e pimenta vermelha plantados por mim no quintal.  É indescritível a sensação de comer um alimento cuja semente a gente viu germinar. Por falar em sementes, foram produzidas aqui mesmo. Ou seja, já existem várias gerações desses ingredientes na minha horta. E a pimenta nem sei o nome. É uma variedade pequena, redonda e vermelha que a Glycia, minha sogra, trouxe de Minas Gerais. Tão lindos meus pimentões e pimentas… Pena que não fotografei antes de nhac!

Alho poró entregue fresquinho pelo pessoal do Sítio A Boa Terra. Encomendo pela internet toda semana e os vegetais são colhidos na véspera. Viajam para São Paulo durante a noite e de manhã tocam a campainha de casa.

Cúrcuma, uma raiz laranja que dá cor linda na comida, muito aromática e que ainda por cima tem superpoderes medicinais. Comprei no Instituto Chão (https://www.facebook.com/institutochao?fref=ts), um supermercado de orgânicos na Vila Madalena que resolveu partir logo para a utopia e eu amo. Vendem tudo a preço de custo e a loja sobrevive do doações. Sou uma apoiadora e dôo R$ 60 por mês. Posso ir lá fazer compras quantas vezes quiser e vale muito a pena. Pelo preço, pelo clima, pela simpatia dos donos, por estar junto ajudando no sonho de baratear os orgânicos e ao mesmo tempo remunerar bem o pequeno produtor.

Está servido?

 

One thought on “146. De onde vem a comida?

  1. Claudia! Belo prato!
    Assino em baixo do que disse sobre quão prazeroso é comer o que você mesmo plantou! Na minha breve experiência plantando meu próprio alimento já consegui comer tomates cereja e também saladas. Devo dizer que uma vez experimentado esse prazer, é impossível não querer aplicar o “farm to fork” para a maior diversidade possível de alimentos que consumimos.

    Do seu prato, vou tentar plantar alho poró aqui em casa assim que aumentar meus canteiros, e no momento, tenho plantado algumas pimentas e também algumas PANC’s – bertalha, chuchu-de-vento e mangaritos. Ainda não os colhi, mas já estou ansioso para provar alguns destes esquecidos sabores.

    Quanto à lentilha, eu devo dizer que também sou fã e uma vez procurei pela orgânica. Acabei encontrado no site da bioé, uma da Marfil Alimentos, que é de Bocaiúva do Sul, Paraná, e tem certificação participativa da rede Ecovida. Conferi agora no site da bioé mas a lentilha está indisponível. De qualquer forma sugiro os links para contato com os produtores, e espero que consiga acha-la:

    https://www.facebook.com/MarfilAlimentosAgroecologicos
    http://marfilagroecologicos.com.br/index.php?pg=contato

    Em tempo, gostei de saber do Instituto chão! Muito bacana ver iniciativas dessas por aqui. Eu havia visto uma vez no youtube uma panificadora francesa chamada La conquête du pain que contava com um modelo utópico e achei o máximo. Compartilho com você:
    https://www.youtube.com/watch?v=lPnolUKH_d0

    Um grande beijo

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