Michael Pollan é o cara. Vale muito a pena ler “O Dilema do Onívoro” e “Em Defesa da Comida”, que ele escreveu para mostrar o que o conteúdo do nosso prato tem a ver com o futuro do planeta.
Toda vez que eu abro a geladeira, escolho um prato no restaurante ou faço a lista de supermercado, estou me intrometendo no que acontece em lugares muito distantes do meu bairro. Nunca fui a Mossoró, no Rio Grande do Norte, mas é por minha causa que lá se plantam melões e mangas. Também ainda não conheço o Chile, mas suas fazendas de salmão foram criadas para atender à minha vontade de comer sushi. O pessoal do Mato Grosso trabalha duro, muitas vezes derrubando floresta, para aumentar as pastagens dos bifes que sirvo para meus filhos.
Pensar na produção de alimentos em escala industrial me deixa bem angustiada. Não gosto de imaginar aviões despejando agrotóxicos, campos de confinamento de gado e aves, montanhas de dejetos, doses maciças de antibióticos e hormônios sendo aplicados nos animais e colheitadeiras gigantes arranhando a terra. Se lembrar disso tudo a cada garfada, perco o apetite. Outro dia, conversando com amigas, ensaiei um comentário a esse respeito quando uma delas disse: “Sobre essas coisas é melhor não pensar”. E o assunto morreu na minha boca. Mas não saiu da cabeça.
Sempre me interessei em saber de onde vem o que coloco no prato. Por isso, O Dilema do Onívoro e em Defesa da Comida, dois ótimos livros do jornalista norte-americano Michael Pollan, foram para mim uma verdadeira viagem no tempo e no espaço. Da pré-história à época das vitaminas sintéticas. Das plantações de milho astecas à granjas de frango que virarão nuggets no jantar das crianças.
Meu amigo Pollan passa longe do estilo sombrio e ameaçador de muitos ativistas ambientais. Ele usa o melhor da objetividade da cultura americana para criar, com o bom humor possível, um amplo painel sobre os avanços científicos, as mudanças sociais e ambientais que foram necessários para alimentar a humanidade a partir da revolução industrial. Em O Dilema do Onívoro, MP investiga com brilhantismo o DNA do brekfast, lunch e dinner dos americanos. E, como nosso cardápio hoje em dia tem muito mais hambúrguer e cookies do que couve refogada e pamonha, muito do que ele retrata se aplica também à realidade brasileira. Pollan — que trabalhou alguns dias numa fazenda alternativa, caçou javali e até comprou um bezerro para fornecer carne ao McDonalds — tem muita história saborosa para contar. Já Em Defesa da Comida é um manifesto contra a neurose de contabilizar calorias e acreditar em modismos pseudocientíficos. Ele propõe buscar nas antigas tradições culturais e nos alimentos in natura a solução para ter mais saúde e deixar um planeta em melhor forma para nossos filhos. Esses livros, na verdade, invadem o território da filosofia, pois defendem o ponto de vista de que os problemas ecológicos atuais são consequência de desprezarmos o caráter sagrado dos alimentos. Vale a pena conferir.
PS – Felizmente, dá para usufruir de alimentos com maior qualidade ambiental, nutricional e ética se a gente se dispuser a estudar o tema e garimpar bons fornecedores. Mas isso é assunto para outra conversa…