Nesse Natal, em vez de entregar algo feito de plástico potencialmente tóxico, que tal oferecer como presente uma brincadeira perto da natureza?
Estamos naquele momento febril do ano e comprar parece inevitável. Numa sociedade em que os antigos rituais religiosos foram substituídos pelo consumismo, Natal só é Natal se tiver muitos pacotes de presentes. Especialmente para as crianças.
Meus filhos já têm nove anos e muitas das geringonças complicadas que ganharam no passado estão empoeirando no armário. Como seus companheiros de geração, eles têm fascínio pelo trio TV/videogame/computador. Mas, nos momentos unplugged, preferem brincar com acessórios mais simples, como corda, bola, cartas de baralho, lápis e papel, tampinhas de garrafa e outras sucatas.
De um lado, observo que as crianças de hoje têm brinquedos demais e pouco tempo ou paciência para brincar. Do outro, percebo que são rodeadas por adultos ansiosos por presentear, mas sem disponibilidade para lhes dedicar tempo. No ótimo documentário “Criança, a Alma do Negócio” (http://www.youtube.com/watch?v=rW-ii0Qh9JQ) , de Estela Renner, numa cena a entrevistadora pergunta a um grupinho: “O que vocês preferem: brincar ou comprar?”. A ida ao shopping ganhou a eleição de lavada. Sem dúvida alguma, um empobrecimento da infância já que, dizem os especialistas, é brincando que os pequenos elaboram sentimentos e constroem a si mesmos.
Sugestão: nesse Natal, em vez de entregar algo feito de plástico potencialmente tóxico, que tal oferecer como presente uma brincadeira perto da natureza?
A psicanalista Lucia Paiva, amiga de longa data, me apresentou há alguns anos o fascinante universo de Jean Piaget. De acordo esse grande estudioso do desenvolvimento humano, crianças entre dois e seis ou sete anos de idade estão na “fase pré-operatória”. Nessa etapa, a fantasia toma conta e vem daí aquela paixão pelos contos de fada. Realidade e sonho se misturam. Tudo o que existe ganha sentimentos: objetos, lugares e fenômenos naturais. São comuns atitudes como colocar os brinquedos para dormir ou achar que a cadeira se machucou porque caiu. Também há a ideia de que todos os acontecimentos do universo são criação humana. Um exemplo: Sabrina, minha sobrinha, outro dia viu a lua minguante e perguntou quem mordeu o outro pedaço (rs).
Na primeira infância, nada é mais maravilhoso do que descobrir a natureza. Então, quando estiver num eco-momento com uma criança, mostre o meio ambiente que a rodeia. A começar pelos bichos que estão perto ou aparecem nos livros e filmes. Deixe-a sentir a chuva, ouvir vento, assistir ao pôr do sol. Aponte o cume das montanhas, a forma das nuvens, as ondas do mar. Deixe a imaginação de ambos voar e trazer explicações malucas. Não transforme o encontro numa aula: simplesmente divirtam-se!
A sensibilidade para o fato de que nós e a natureza somos uma coisa só surge a partir de singelas experiências cósmicas. No futuro, esse ser humano será mais receptivo às informações relacionadas à sustentabilidade e mais disposto a participar de ações em favor do meio-ambiente. E é de pessoas assim que a humanidade está precisando.
A experiência parece incrível também para nós resgatarmos aquele saber ancestral e intuição natural… adormecido, quem sabe…