Vem da Cidade Universitária o Movimento Antiusinas Nucleares. E eu adoraria ouvir as explicações dos doutores sobre os prós e os contras de cada alternativa energética.
Fiquei sabendo que um grupo de professores renomados da USP está articulando o Movimento Antiusinas Nucleares. Terça-feira (26/4) houve uma reunião na sede da ADUSP (Associação dos Docentes da USP). A iniciativa partiu de Ecléa Bosi, Alfredo Bosi e Chico Whitaker. Eles querem esclarecer a opinião pública e influenciar decisões governamentais. Propõem, inclusive, a realização de um plebiscito nacional sobre o assunto.
Não fico confortável com a existência de centrais nucleares, sobretudo depois de ler segunda-feira no Estadão a matéria “Chernobyl será perigosa por milhares de anos” (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110425/not_imp710271,0.php). Por isso acho ótimo a academia usar seu conhecimento e senso crítico em favor da coletividade, desfazendo a cortina de fumaça que políticos e corporações constroem ao redor desse tema e de tantos outros.
Só que não basta dizer não à energia nuclear. Está em pauta, na verdade, toda a matriz energética do país, pois, se desistirem das usinas, os governantes vão apelar para outra solução, talvez ainda pior. O crescimento econômico (em bases nada sustentáveis como está ocorrendo hoje) demanda grande aumento na geração de energia. Como opções, construir mais hidrelétricas, investir mais em termelétricas, fazer usinas nucleares, queimar mais petróleo, produzir mais biocombustíveis. Nenhuma dessas alternativas se salva em termos ambientais e sociais, já que…
- A sede por biocombustíveis está transformando o Brasil num árido canavial e desmontando aos poucos o sistema agrícola em escala humana, o que representa um enorme risco em termos de segurança alimentar;
- Queimar o petróleo do pré-sal vai sair caro e complicar as mudanças climáticas;
- A usina de Belo Monte, pelo que tenho acompanhado na imprensa, será uma tragédia ecológica, mas representa um ótimo negócio para as empreiteiras e para os políticos que buscam financiamento de campanhas;
- As termelétricas tiram energia de combustível, gás ou carvão. Além de contribuir para o aquecimento global, essa opção perpetua as carvoarias que, como se sabe, são sinônimo de escravidão e desmatamento.
É viável reduzir a demanda energética substituindo o atual padrão de produção e consumo por um modelo de desenvolvimento mais sustentável?
É possível conseguir energia limpa (solar e eólica) em larga escala?
Dá para construir hidrelétricas sem destruir tanto?
Gostaria muito de ouvir as explicações dos professores da USP. Não é justo que apenas químicos, físicos e engenheiros entendam exatamente as consequências das opções que hoje estão sendo tomadas por governo, estatais e grandes grupos empresariais privados. Essa é uma questão essencialmente humana! Afeta cada um de nós e vai afetar mais ainda os nossos filhos e netos. Quero saber não apenas o que as ciências exatas têm a declarar como também as implicações econômicas, biológicas, sociológicas, históricas, geográficas, filosóficas e psicológicas desse imbroglio. E vou ficar bem feliz se essa conversa chegar às escolas, praias e botequins.
Reproduzo abaixo o documento elaborado pelos professores da USP.
CINCO RAZÕES PARA DIZER NÃO ÀS USINAS NUCLEARES
Razões ambientais
1. Não há risco zero em nenhum tipo de usina nuclear: portanto a questão da usina nuclear é, antes de tudo, de natureza ética. Acidentes naturais, falhas técnicas, falhas humanas podem ocorrer, como já ocorreram nos Estados Unidos, na União Soviética, no Japão, nações que dispõem de alta tecnologia. Em Three Mile Island (1979) houve derretimento do reator. Em Chernobyl,1986, houve explosão do reator. Em Fukushima, acidentes naturais. Causas diferentes e todas imprevisíveis. Os responsáveis pela construção das usinas sempre afirmam que a segurança das centrais nucleares é perfeita, mas o fato é que não puderam nem podem evitar acidentes deste ou daquele tipo. Cuidado com os lobbies nucleares!
2. Não se pode garantir por milhares de anos a segurança dos depósitos de rejeitos provenientes dos reatores. O lixo atômico sobreviverá muito tempo depois que a usina for desativada.
3. Os efeitos cancerígenos das radiações são de conhecimento geral.
Razões sociais
4. No caso de Angra, não há condições de retirada imediata da população, caso se verifiquem acidentes que obriguem à evacuação imediata da zona contaminada.
Razões econômicas
5. O alto custo que importa a continuação do programa de construção de usinas nucleares (aproximadamente 8 bilhões de dólares cada uma) não compensa o uso que se fará da energia, que corresponderá a apenas 3 por cento do total das modalidades energéticas em operação no Brasil.
Movimento Anti Usina Nuclear