81. Pedalar mais, acelerar menos

bicicleta-cidade[1]Paulistanos se encontram com David Byrne (ex-astro do rock internacional) sonhando em tornar a cidade mais acolhedora para pessoas e bicicletas, deixando de lado a ditadura do carro. E o Brooklin ganha a  primeira ciclorrota de São Paulo.

Eu já gostava das músicas do David Byrne (líder da banda Talking Heads, que fez muito sucesso nos anos 80). Mas virei fã mesmo quando li o ótimo “Diários de Bicicleta” e descobri que ele se reinventou como cicloativista e escritor. Pois não é que o ex-roqueiro idealizou o fórum “Cidades, bicicletas e o futuro da mobilidade”? A estréia aconteceu em 12/7 em São Paulo e vem aí a turnê pela América Latina (Buenos Aires, Santiago, Quito, Lima, Bogotá, Cidade do México e Guadalajara).

Seus companheiros na versão paulistana do evento foram o veterano cicloativista Arturo Alcorta (www.escoladebicicleta.com.br), o Secretário de Transportes do Município de São Paulo, Marcelo Branco, e o sociólogo Eduardo Vasconcellos, conselheiro da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). Até agora as palavras deles ricocheteiam na minha cabeça e aqui vai um resumo didático das apresentações:

David Byrne mostrou com imagens como o carro exterminou progressivamente o convívio humano nas ruas em boa parte das grandes cidades do mundo. Nada ocorreu por acaso, ele demonstrou, uma vez que no início do século XX urbanistas começaram a planejar “cidades do futuro” com subúrbios isolados, avenidas larguíssimas, complexos de viadutos monstruosos e torres de apartamentos gigantescas. O ápice desse modelo é Los Angeles, onde 70% do espaço urbano pertence aos carros, não existem pedestres e lançaram até um nostálgico shopping na forma de rua artificial. Depois desse show de horror, Byrne comentou o modelo europeu de cidades menos motorizadas e o renascimento do transporte a pé e por bicicletas em NY.

Arturo Alcorta chamou a atenção para a ligeira vaia que o Secretário de Transportes levou ao entrar. “Não sejamos bipolares: se motoristas e ciclistas virarem inimigos e não houver debate democrático, estamos perdidos!”. Ele explicou por que aposta no modelo da convivência entre carros e bicicletas e na mobilização dos cidadãos para a defesa do uso do espaço público pelas pessoas.

Marcelo Branco, chefe da CET e do SPTRans, sabia que estava em território inimigo e pretendia propagandear a ciclofaixa de lazer (o circuito de bicicletas dos domingos) e a ciclorrota do Brooklin (percurso de 15km inaugurado em 20/7/2011 http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/946080-brooklin-na-zona-sul-estreia-hoje-a-1-ciclorrota-de-sao-paulo.shtml). Percebeu o teor do debate e decidiu fazer um discurso franco e de improviso explicando que o CET foi criado para privilegiar automóveis e que não é fácil mudar mentalidades de um dia para o outro. Disse ainda que a velocidade máxima dos carros em diversos pontos da cidade será reduzida, visando proteger ciclistas e pedestres. Terminou aplaudido e, na manhã seguinte, eu fiquei com vergonha de ser jornalista, pois a cobertura da Folha, além de rarefeita, tentou fazer intriga dizendo que ele teria falado mal do CET.

Eduardo Vasconcellos, uma surpresa, foi o grande destaque da noite. Apresentou uma visão histórica do desenvolvimento das cidades e do sistema de transporte do país a partir dos anos 30. De acordo com ele, desprezar as opções coletivas e incentivar a população a se motorizar foi um bem-sucedido projeto político de nossos antigos a atuais governantes. (Concordo com ele e acrescento que esse modelo agora tem o apoio da maior parte da população e o político que realmente quiser virar o jogo se arrisca a perder votos. Fabio Feldman que o diga). Ele conclamou a galera a se munir de informações para evidenciar o constrangimento ético de quem defende a prioridade para esse meio de transporte individualista, poluidor e detonador de espaços públicos. O auditório, lotado, agradeceu a aula aplaudindo loucamente.

Como dica prática, a que mais me marcou foi dirigir devagar. Não é fácil, pois vivo atrasada, mas realmente me propus essa meta. Trata-se da melhor atitude imediata que podemos adotar se quisermos deixar a cidade mais acolhedora para as pessoas. Essencial também é não bitolar no carro. Vale a pena sair do piloto automático e, a cada deslocamento, ver as alternativas. Ir de metrô, ônibus, pé2 ou bike é mais confortável e divertido em grande parte dos trajetos. 

Trilha sonora do post: Psychokiller http://www.youtube.com/watch?v=l5zFsy9VIdM

Mais sobre carros em:
http://conectarcomunicacao.com.br/blog/42-cigarro-sculo-xxi/
http://conectarcomunicacao.com.br/blog/43-meu-dia-quase-sem-carro/
http://conectarcomunicacao.com.br/blog/44-uma-paixo-cafageste/

One thought on “81. Pedalar mais, acelerar menos

  1. Querida Claudia:

    É simplesmente sensacional! Não sabia do seu site/blog, mas é assim mesmo que penso e venho tentando mostrar para as pessoas. A saída feliz e saudável para o mundo é consumir menos. Desde a comida, passando pelo itens pessoais e tudo mais.
    Eu tenho procurado ter essa consciência e passar para minha filha e quem está ao meu redor, como exemplo.
    Parabéns! Vamos manter contato.

    Abraço forte

    Secco

  2. Moro ao lado do Parque do Cordeiro e foi uma surpresa muito agradável ver a sinalização na pista. Costumo sair para caminhar e correr por lá, espero que o respeito se estenda ao pedestres!

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