103. A polêmica das sacolinhas

Respondo aqui questionamentos sobre o sumiço das embalagens descartáveis gratuitas dos supermercados.

Tempos atrás resolvi escrever um post com dicas para facilitar a vida de quem está se acostumando a ir às compras com suas próprias sacolas (http://conectarcomunicacao.com.br/blog/73-sem-medo-de-dizer-adeus-sacolinhas/). E aí, tanto no blog quanto na “vida real”, tenho observado comentários mau-humorados e alguns até ofensivos à turma dos ambientalistas.

Sou totalmente a favor da conversa entre pessoas que possuem diferentes pontos de vista. Acredito que, no encontro respeitoso entre índios de diversas tribos, todos ganham. Os tempos de informalidade e comunicação eletrônica que vivemos, no entanto, pedem ainda mais atenção com as regras de civilidade. Trocando em miúdos: seja bem-vindo ao debate, mas por favor se manifeste com gentileza! Agora, respondendo aos seus questionamentos…

E a maioria da população que tem que pegar ônibus, trem, metrô? Vai carregar caixas? As sacolinhas plásticas não tornam as compras mais leves. E o risco do plástico fino das descartáveis rasgar é maior do que no caso das sacolas duráveis.

O líquido de carnes em contato com tecido ou papelão não irá aumentar o risco de contaminação? Há cerca de 20 anos uso sacolas retornáveis e nunca tive esse problema. Sequer embrulho as carnes com plástico extra. Costumo colocar os “úmidos” todos juntos. Como tenho tanto sacolas de tecido quanto de trama plástica (aquelas tradicionais “de feira”), dou preferência às últimas para as carnes. De vez em quando, lavo todas com minhas próprias mãos e coloco para secar no sol.

E os produtos de limpeza ficarão juntos com os alimentos na caixa?É possível reservar uma sacola exclusivamente para produtos de limpeza. Não preciso fazer isso porque o consumo dos itens químicos na minha casa é bem pequeno (quase tudo dá para limpar com sabão de coco e bastante esfregação). Com as ecobags fica fácil organizar as compras ali na saída do caixa. Enquanto os produtos vão passando pelo leitor do código de barras, já separo cada grupo em uma sacola diferente. Isso simplifica muito o trabalho de guardar em casa. Como prefiro fazer isso pessoalmente, quando há empacotadores tomo o lugar deles.

E o povo vai colocar o lixo aonde? Direto nas ruas? Vai ter condições de comprar sacos de lixo? Realmente, nos locais onde falta urbanização e coleta de lixo decente a coisa complica. Mas a culpa não é da falta de sacolas plásticas. Ao contrário, elas representam riscos extras para a população carente. O governo de Bangladesh foi um dos primeiros a banir as sacolinhas, depois de enchentes devastadoras e muitas mortes devido ao entupimento da rede de esgotos por sacos plásticos. E o pessoal de uma comunidade de Florianópolis criou uma solução brilhante para o lixo orgânico, o mais problemático. É a Revolução dos Baldinhos: http://www.youtube.com/watch?v=NlFFmO-xkBI.

Vocês ecos já estão fora de moda de tanto se acharem. Se não gostam de sacolas plásticas, usem as de tecidos, carreguem bastante peso e contraiam uma lordose. Como disse acima, as sacolas plásticas não deixam as compras mais leves. E, na minha opinião, tornam o transporte mais desconfortável. Nós ambientalistas nem pretendemos estar na moda, muito ao contrário. Fazemos ativismo porque queremos que a sociedade se torne mais justa, com oportunidades de consumo mais igualitárias. Estamos tentando criar uma nova economia, baseada num ciclo virtuoso de geração de trabalho e renda em atividades que melhorem o meio ambiente e as condições de vida de todos os seres, não só os humanos.

Enquanto os barões do varejo negam as sacolas plásticas preocupados com a ecoidiotice ambiental, deveriam também se preocupar com as garrafas PET que são despejadas no meio ambiente. Tem razão! Garrafas PET são um problema ainda pior. Dê uma olhada no que diz a iniciativa Água na Jarra: http://www.aguanajarra.com.br/. Também acho ruim a superconcentração econômica do varejo e dou preferência às lojas menores (de bairro) e à entrega domiciliar de produtos agroecológicos cultivados na minha região. Além disso, evito o consumo de alimentos industrializados, sobretudo os provenientes de grandes corporações.

Então “caros defensores da Terra”, por que não brigam por um melhor saneamento básico em nosso país, por uma melhor coleta seletiva de resíduos sólidos, pelo fim (mas fim mesmo) de todas as embalagens plásticas. Nós estamos fazendo isso. Escrevemos blogs, fazemos campanha, passeata, tentamos conscientizar as pessoas pelo Facebook e até participamos dos Conselhos de Desenvolvimento Sustentável (CADES) dos nossos municípios (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/cades/). Qualquer cidadão pode freqüentar as reuniões. Vamos nessa?

Por que eu tenho que levar embalagens para o supermercado se os políticos e as empresas não fazem a parte deles? Se todos se acomodarem, nunca as coisas vão melhorar. Com que moral cobraremos atitudes mais sustentáveis dos governantes e das empresas se não estamos dispostos a mudar em nada os nossos hábitos?

One thought on “103. A polêmica das sacolinhas

  1. Cláudia, acompanho seu blog quietinha mas desta vez tenho de deixar um comentário para parabenizá-la pela razoabilidade. É muito difícil não perder as estribeiras diante de tantos ataques. As pessoas às vezes são muito agressivas com quem busca atitudes mais sustentáveis, por que será? Penso que muita gente se sente culpada por não estar fazendo nada e acaba inventando desculpas para se justificar.
    Eu, por exemplo, uso fraldas de pano nas minhas duas filhas (uma de 2 anos e outra de 5 meses). Daí muita gente me critica dizendo que a água e a energia que se usa pra lavar as fraldas de pano são mais antiecológicas que as fraldas descartáveis. É muito fácil usar esse tipo de argumento pra tirar o corpo fora. Por que não admitir simplesmente que não tenho tempo, que tenho nojo do cocô, que acho as fraldas descartáveis mais práticas ou que simplesmente estou com preguiça?
    Sempre usei carro particular para ir, sozinha, ao trabalho. Isso porque nunca consegui abrir mão dos meus minutinhos que perderia caso usasse o transporte público ou combinasse caronas. Mas, em vez de assumir isso, que tal inventar que ônibus polui mais que carro, que atrapalha o trânsito e que no final das contas, apoiando a indústria automobilística, eu estou ajudando o Brasil a crescer e diminuir a pobreza?
    Com as sacolas de plástico é a mesma coisa. Todas essas contestações nada mais são que preguiça de andar sempre com uma ecobag na bolsa.

    1. Oi Lia, que delícia seu comentário, obrigada! Vc tem toda razão e é difícil receber tanta negatividade, ainda mais quando a gente está com ótima intenção. Sofro com isso. Mas o mal estar desaparece num minuto quando a gente percebe a sintonia com pessoas que estão no mesmo barco. Bjo!

  2. Sinceramente, é ridicula essa proibição da distribuição das sacolinhas plasticas. Existem tantos outros produtos com embalagens de plastico nos supermercados e etc. Nós reutilizamos essas sacolinhas tanto para levar nossas compras para casa, quanto para embalar nosso lixo.

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