127. O que será feito com o lixo de São Paulo nos próximos 20 anos?

Para descobrir a resposta e tentar interferir nos rumos da metrópole, participei da 4ª Conferência Municipal do Meio Ambiente como representante (eleita) da população do subdistrito de Pinheiros.

Foram três dias de muito trabalho e aprendizado. Em primeiro lugar, me chamou a atenção que o engajamento dos cidadãos das regiões periféricas era bem maior. Mais adiante ficará claro o motivo. O encontro abordou unicamente o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Cidade de São Paulo. Não começamos do zero. Muito ao contrário, todas as discussões se pautaram por um documento de 60 páginas escrito a partir de reuniões realizadas nas 31 subprefeituras, oficinas temáticas, grupos de trabalho inter-setoriais e propostas da equipe técnica da prefeitura. Um processo bastante democrático, porém pouco divulgado.

Só para ter uma ideia do desafio, atualmente menos de 2% dos resíduos coletados pela prefeitura vão para a reciclagem. Mais de 98% têm os aterros como destino, o que representa um enorme problema ambiental e desperdício de recursos. A meta para 2032 é dar um fim mais nobre para 70% dos resíduos (30% continuarão indo para os aterros). A conferência se concentrou nas estratégias para alcançar esse objetivo, que não foi questionado.

Além dos delegados da sociedade civil, havia representantes do empresariado e do poder público. Todos com direitos iguais a voz e voto. Cada delegado poderia escolher uma sala temática e lá fui eu para a dos Resíduos Orgânicos, ou seja, tudo aquilo que a natureza produz e, se deixarmos, ela mesma sabe reciclar lindamente transformando em adubo. Estou falando de restos de comida, podas de árvore, talos, caroços, folhas secas, madeira, serragem etc que representam 51% do lixo produzido em SP. Assunto totalmente ligado à agricultura urbana e às hortas comunitárias, já que usamos exclusivamente composto orgânico e esterco como adubo.

Fechados numa sala sem janela durante todo o sábado de sol, debatemos e alteramos as 23 diretrizes, objetivos, estratégias e metas apresentadas para os orgânicos que, no documento final, se tornaram 31. Nada fácil abdicar do fim de semana para trabalhar duro e sem remuneração em prol do coletivo, mas a oportunidade de propor mudanças no texto da lei e ver que elas foram realmente incorporadas compensou o esforço.

Logo no início dos trabalhos, percebi que valeu a pena participar desde 2012 do Grupo Pró-Viabilização da Compostagem em São Paulo, uma rede de pessoas interessadas em promover essa prática e não uma ONG ou grupo institucionalizado. Graças em parte à nossa militância em favor da compostagem, tanto no Programa de Metas da gestão Haddad quanto nesse PGIRS (sigla do tema da conferência), ganhou força a ideia de que a cidade deve compostar aqui mesmo os resíduos orgânicos que gera. A discussão passou a ser sobre a melhor forma de fazer isso.

Nesse ponto abandono o relato do evento para refletir sobre os próximos passos. Quem tiver interesse pode ler todo o PGIRS, que será disponibilizado e colocarei o link aqui.

Um ponto importante do plano é que São Paulo em breve vai ganhar quatro grandes Centrais de Processamento da Coleta Seletiva (para os resíduos industrializados) e imensas Unidades de Compostagem. Ou seja, de modo geral o município adotará  soluções macro para seu lixo nos próximos 20 anos.  Isso implica em investimentos volumosos, caminhões de coleta que continuarão circulando intensamente e concentrar as concessões em grandes empresas.

A opção pela larga escala, que os técnicos da prefeitura dizem ser incontornável, na minha opinião tem maior risco de prejudicar a qualidade do produto final. Explico usando como exemplo os resíduos orgânicos: quanto maior a quantidade, mais difícil o controle. Aqui em casa, tomo precauções máximas com a compostagem porque ela vai gerar o adubo para a minha horta e eu vou comer os alimentos que vierem dela. Mas quem garante que a população será extremamente cuidadosa se continuar podendo jogar o que quiser num caminhão que vai embora para longe? E se, por descuido ou má intenção, contaminantes como carcaças de animais, pilhas, baterias e outros produtos tóxicos forem depositados junto com o lixo da cozinha? Uma única lata de tinta  poderia contaminar mais de uma tonelada de composto orgânico. Quais mecanismos seriam adotados para impedir que isso aconteça?

Outro ponto muito delicado: a centralização das soluções do lixo gera injustiças territoriais. Nas regiões mais ricas, onde a produção de resíduos é maior, não há aterros e provavelmente não serão instalados centros de triagem ou de compostagem. Moro em Pinheiros e os caminhões de coleta levam embora tudo o que recolhem aqui. Mas o distrito de São Mateus, na Zona Leste, já possui quatro aterros e agora está em estudo a instalação do quinto. Aliás, nos bairros “bons” da cidade, todo muito acha ecochique reciclar, mas a população sequer admite que cooperativas de catadores se instalem.

Pessoalmente, sou uma adepta da descentralização de tudo, baseada na filosofia do Small is Beautiful (que explico nesse post: http://conectarcomunicacao.com.br/blog/49-beleza-pequeno/) . E da extinção do lixo, baseada na ideia do movimento Do Berço ao Berço (http://conectarcomunicacao.com.br/blog/85-prxima-revoluo-industrial/).  Acredito que embalagens descartáveis não deveriam existir, com exceção do papel e papelão impresso com pigmentos vegetais, que vira adubo facilmente. Que todos deveriam compostar seus resíduos orgânicos. Que os supermercados deveriam vender a granel e os líquidos serem transportados em vidros retornáveis. Mas quando digo isso para amigos e empresários, a resposta em geral é: “Isso é impossível, não é prático, dá trabalho, ia complicar muito os negócios.” Desconfio que essa opinião mudaria radicalmente caso o tratamento do lixo ocorresse obrigatoriamente no local onde foi gerado. Se as garrafas PET, as fraldas descartáveis, as latas, os aparelhos eletrônicos quebrados e tudo mais tivesse que ser processado do lado da nossa casa, tentaríamos ao máximo não gerar lixo, não é? E o catador de materiais recicláveis seria o herói da vizinhança.

No ano que vem haverá revisão do Plano de Metas da prefeitura. Daqui a quatro anos, o PGIRS será revisto. A partir de agora, estou me aliando a quem tiver interesse em batalhar pela seguinte causa: BUSCAR SOLUÇÕES PARA QUE PROGRESSIVAMENTE OS RESÍDUOS ENCONTREM DESTINAÇÃO ADEQUADA (POR COMPOSTAGEM, PREPARAÇÃO PARA RECICLAGEM OU TRATAMENTO DE REJEITOS) DENTRO DAS FRONTEIRAS DE CADA BAIRRO.

126. Sempre o lixo

Informações interessantes e muitas dúvidas quando o assunto é reciclagem.

São Paulo terá sua 4ª Conferência Municipal de Meio Ambiente de 30 de agosto a 1º de setembro, em que participarão representantes da sociedade civil, do poder público e do empresariado. Eu me candidatei a delegada e, numa votação em que havia mais vagas do que pretendentes, ganhei a incumbência. (Quando escrevo que sou delegada fico me  imaginando com uma estrela de xerife pendurada na camisa, só que verde para combinar com o tema eco.)

Essa conferência terá como tema “Implementando a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Município de São Paulo”. Então lá fui eu para um dos encontros preparatórios ouvir representantes da indústria e do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis. Descobri Informações Interessantes (INF. INT) e fiquei com mais Dúvidas (???) do que já tinha sobre a viabilidade econômica e ambiental da reciclagem. Vamos a elas:

INF. INT – De acordo com André Vilhena, o representante da CEMPRE (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), um grande entrave para o setor é a carga tributária sobre o produto reciclado. A Confederação Nacional da Indústria está pedindo ao governo revisão desses tributos e, de quebra, um acordo que beneficie as embalagens de modo geral.

??? – Peraí, estão falando em embutir incentivos a embalagens descartáveis na conversa da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prioriza a redução da produção de lixo e a reutilização de materiais? Será que ouvi direito?

INF. INT – O representante da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro), Lucien Belmonte, afirmou que a entidade garante a retirada e reciclagem do vidro, desde que a quantidade oferecida seja acima de 4 toneladas e o local esteja a menos de 130 de uma das fábricas afiliadas. Também confirmou o interesse da indústria em reciclar 100% do vidro, pois a emissão de gases do efeito estufa nesse caso é menor do que a fabricação a partir de matéria prima retirada da natureza. De acordo com ele, mais da metade do consumo de embalagens de vidro no país se concentra em bares, hotéis e restaurantes, que ainda não montaram um sistema de logística reversa. Ainda comentou que cerca de 30% da vodca e do uísque consumidos no país é falsificado, pois as embalagens separadas para a reciclagem muitas vezes tomam o mau caminho.

??? – Simplesmente o fabricante da bebida recolher, lavar e recolocar a mesma garrafa no mercado, como ocorria até uns 30 anos atrás, não é muito mais sensato do ponto de vista econômico e ambiental? Por que não se investe nessa alternativa?

INF. INT – Hermes Contesini veio falar em nome da Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET). Revelou que 90% do PET consumido no Brasil embala refrigerante, água mineral e óleo de cozinha. A reciclagem vem crescendo, mas empaca na dificuldade de recuperar o plástico que foi para o mercado e acaba no lixão ou aterro sanitário. Cada brasileiro está consumindo em média 3 kg de PET ao ano e nos Estados Unidos são cerca de 8 kg. Por isso, a indústria estima que o mercado ainda está em expansão. Para completar uma tonelada de PET são necessárias aproximadamente 20 mil garrafas (descobri no site da CEMPRE que a indústria paga cerca de R$ 1.700 por essa quantidade, desde que devidamente limpa e prensada). A indústria têxtil é a que mais consome PET, pois o material foi desenvolvido inicialmente para substituir o algodão em tempos de penúria pós-guerra. O Japão é um grande consumidor de PET, mas não recicla absolutamente nada. Envia todo o resíduo para a China, que o transforma em roupa barata para exportação. A Anvisa não está liberando o PET reciclado para embalagem de alimentos. Há apenas um projeto de transformar garrafa em garrafa atualmente acontecendo no Brasil: o Bottle to Bottle do Guaraná Antarctica (http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2012/novembro/guarana-antarctica-lanca-embalagem-brasileira ).

??? – Quer dizer que a indústria está sonhando em mais do que duplicar o consumo de PET no Brasil? Com isso as praias vão ficar ainda mais forradas de plástico do que já são? Quer dizer que aquela roupitcha baratinha da José Paulino é feita com lixo japonês? Por que será que a Anvisa não quer liberar o PET reciclado para embalagens? Quais seriam os riscos para a saúde? A dificuldade em recuperar o PET para a reciclagem não seria devido ao preço baixíssimo que a indústria paga pelo material (200 garrafas limpas, prensadas e amarradas = R$ 17)?

INF. INT: Luzia Honorato, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, contou que os catadores não conseguem sobreviver apenas da venda do material. Pelo vidro, por exemplo, estão conseguindo cerca de R$ 0,10 por quilo. Para viabilizar a atividade é preciso que os trabalhadores sejam remunerados também pelo serviço de coleta e separação dos materiais. Os caminhões de coleta da prefeitura compactam a carga de modo que quase 50% fica impossível de reciclar. Isso tudo vai para os aterros, apesar do esforço das pessoas em limpar e separar em casa. Sistemas de coleta alternativos ou a entrega voluntária do material em cooperativas e supermercados são opções melhores. Ainda há ignorância e desrespeito em relação à coleta seletiva e até cadáveres de animais de estimação apodrecidos chegam com frequência às cooperativas. A Lei de Zoneamento do município não permite a instalação de cooperativas praticamente em local algum.

??? – Já que o dinheiro que recebem com a venda do material reciclável é irrisório, quem vai pagar o salário de que os catadores precisam para viver? Se a maioria das pessoas acha a reciclagem uma solução mágica para o problema do lixo, por que as cooperativas não conseguem espaço para se estabelecer na cidade?

INF. INT – Lá pelas tantas, Rachel Moreno, ativista e nova amiga, que estava na plateia, questionou um dos palestrantes dizendo que até  70% do preço de um produto corresponde à embalagem (informação que ninguém contestou).

??? – Por que ainda existe embalagem descartável?

Ótima entrevista do professor Ricardo Abramovay sobre o tema: http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/cidades-sustentaveis/CIDADES-SUSTENTAVEIS.htm#ixzz2bTo6SbP3

120. Não jogamos nada fora. Não existe fora.

Sou inconformada com a existência do lixo. Acho absurdo que quase todas as coisas que nos circundam sejam encaminhadas mais cedo ou mais tarde para uma grande e escondida montanha (ou vala) de materiais sujos e misturados.

O tema resíduos, além de irritar e angustiar, aciona meus sensores cerebrais em busca de soluções. Cuidar do lixo se tornou um dos meus hobbies favoritos. Dedico muitas horas a esse tema, seja compostando as sobras orgânicas, fazendo curadoria dos mais ínfimos objetos para torná-los atrativos e úteis, participando de feira de trocas ou simplesmente deixando de comprar.

Não bebo água mineral (levo minha garrafinha com água do filtro para todos os lugares). Abandonei quase completamente os cosméticos e os produtos de limpeza industrializados por não suportar aquelas embalagens que se multiplicam infinitamente. Com um pedaço de sabão de coco e uma folha de babosa (aloe vera) que planto no quintal resolvo a questão sabonete, xampu, condicionador, hidratante. Com o limpa-tudo que aprendi a fazer (http://conectarcomunicacao.com.br/blog/115-limpeza-geral/) e o Auxi (versão concentrada do Biowash, limpador orgânico ­ http://biowash.com.br/linhas/linha-auxi-39) equaciono a limpeza anual com apenas 3 embalagens de plástico mais alguns sacos de sabão de coco em pó, fracos de álcool e de vinagre. Troquei o filtro solar por chapéu e camiseta. Penso mil vezes e tento arranjar doação antes de adquirir eletrônicos. Virei cliente e fã da empresa Alimento Sustentável (http://www.alimentosustentavel.com.br/) , que recebe vidros com tampas usados de quem quiser oferecer para embalar a comida orgânica deliciosa que vende. De tempos em tempos, devolvo para a contadora os clipes de papel que recebo de seu escritório. Recolho da rua folhas secas (para a horta) e objetos que os vizinhos jogam fora e têm potencial para virar recipientes de plantas. Aliás, trapos são ótimos para substituir as mantas de drenagem nos vasos.

Mesmo assim, os resíduos continuam a me assombrar. O escritório de casa virou um depósito permanente de garrafas de vidro vazias, plásticos em geral, papéis (usados dos dois lados) e embalagens de papelão.  Limpo, separo a sucata e vou juntando até o dia de levar no muque para a Coopamare (Cooperativa de Catadores – http://www.catasampa.org/cooperativas.php?id_coo=15) e recomeçar o armazenamento. Não pense que saio da cooperativa com a consciência tranqüila e me sentindo quites com o meio ambiente. Ao contrário, perceber que não consegui reutilização para tanto material me deixa frustrada. E, apesar do trabalho heroico dos catadores, as grandes quantidades de resíduos no pátio da cooperativa são a imagem de um sistema prestes a enfartar por não conseguir gerir tanto produto feito para o descarte.

No meu dicionário, reciclagem não é sinônimo de ecologia. É apenas redução de danos. Ninguém me convence que transportar, derreter e refazer uma garrafa de cerveja causa menos impacto do que simplesmente lavar, reenvasar e recolocar no mercado.  Era assim que se fazia antigamente e as garrafas podiam durar várias décadas vivendo de bar em bar. Quanto ao papel, se usássemos tinta de origem vegetal e abandonássemos vernizes e outros químicos poluentes, bastava jogar na terra para virar adubo. Para fechar a turma da coleta seletiva, no meu mundo ideal plástico e alumínio jamais chegariam perto de alimentos e teriam usos muito restritos.

Nesse atual momento histórico brasileiro, vem de cima (governo federal) a obrigação de implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm). Para as prefeituras a lei está chegando espinhosa e difícil de cumprir. Já as empresas não se mostram dispostas a rever radicalmente o uso de embalagens descartáveis e iniciar uma transição para o lixo zero, conceito tão aclamado quanto ignorado na prática. E a grande maioria dos cidadãos ignora/finge ignorar o tema ou joga a culpa “neles”, os políticos. Só que nesse caso a culpa é muito mais dos empresários.

Para aprofundar o tema lixo – ou gestão de resíduos sólidos, se preferir — existem toneladas de livros, gigabilhões de bites na internet e centenas de congressos pipocando pelo planeta. Acho importante pesquisar e estudar o assunto. Mas eu estou bem cansada de tanta falação e pouca atitude. Quem quiser montar um Movimento Antilixo, com ações práticas, pode me convidar que estou dentro.

OUTROS POSTS SOBRE LIXO NESSE BLOG

  • Mais vale reduzir e reutilizar  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/21-mais-vale-reduzir-reutilizar/
  • A próxima revolução industrial  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/85-prxima-revoluo-industrial/
  • Para onde mando meu lixo?  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/52-para-onde-mando-meu-lixo/
  • A desinvenção do lixo  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/38-desinveno-lixo/
  • Embalagem Zero  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/60-embalagem/
  • A polêmica das sacolinhas  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/103-polmica-das-sacolinhas/
  • Existe plástico verde?  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/67-existe-plstico-verde/
  • O mundo não precisa de mais garrafas PET  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/36-mundo-precisa-de-mais-garrafas-pet/
  • De-com-po-si-ção  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/62-decomposio/
  • Minhocologia Avançada  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/112-minhocologia-avanada/
  • As coisas têm conserto  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/46-coisas-tm-conserto/
  • Sem isopor, por favor!  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/77-sem-isopor-por-favor/
  • Bumbum com pano  http://conectarcomunicacao.com.br/blog/94-bumbum-pano/

113. Em vez de reclamar, vamos melhorar São Paulo?

Se existem mil motivos para falar mal de São Paulo, também há infinitos jeitos de dar uma contribuição para a cidade ficar melhor. Superfeliz por estar acompanhando diversas iniciativas que pretendem tornar a metrópole um lugar melhor para viver, vou compartilhar algumas delas, torcendo para que ganhem força e mais apoiadores.

 

  • Duas hortas comunitárias estão nascendo na cidade, ambas ligadas ao movimento dos Hortelões Urbanos. A primeira fica na Praça das Corujas (Vila Madalena) e já está na fase de plantio. Fizemos um blog para contar como anda o projeto www.hortadascorujas.wordpress.com e estamos recebendo voluntários de braços abertos. Os mutirões acontecem nos finais de semana. Os próximos serão em 19/8 (domingo) e 25/8 (sábado) a partir das 9h. A outra, ainda em fase de planejamento, será instalada no Centro Cultural São Paulo (Metrô Vergueiro) e também busca voluntários. Se quiser participar, mande uma mensagem para mim ou comente esse post que coloco você em contato com quem está fazendo o projeto.

 

  • Semana passada participei do Seminário “Compostagem na Cidade de São Paulo: Gestão Adequada dos Resíduos Orgânicos”. Foi na Câmara dos Vereadores, um momento histórico que marcou o início das atividades da Comissão Pró-Viabilização da Compostagem na Cidade de São Paulo. Esse grupo, integrado por representantes do poder público e da sociedade civil, está buscando maneiras de tornar a compostagem uma política pública, reduzindo muito a geração de lixo e ainda produzindo adubo orgânico de alta qualidade dentro da metrópole. Para saber mais:  http://www.moradadafloresta.org.br/artigos/compostagem-na-cidade-de-sao-paulo/618-propostas-pro-compostagem-na-cidade-de-sao-paulo

 

 

  • No sábado dia 25/8 darei o curso Hortas na Metrópole, no Quintal dos Orgânicos (Rua Fradique Coutinho, 1416, Vila Madalena). Vou falar sobre as melhores espécies de vegetais para começar o plantio doméstico, como escolher o local onde os vasos e/ou canteiros ficarão, como preparar a terra e os cuidados necessários para as plantas crescerem fortes e saudáveis. Custa R$ 60 e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail claudia@conectar.com.br.

112. Minhocologia Avançada

Meus erros e acertos até conseguir cuidar direitinho das minhocas que transformam o lixo orgânico da minha casa em adubo.

Tenho minhocário desde 2009 e é para lá que vão as sobras da cozinha. O modelo básico, que consiste em três caixas retangulares de 60X40X20 cm, cabe em qualquer apartamento. E existem kits menores. Graças às minhocas, diminuímos muito a produção doméstica de lixo e fabricamos o húmus que aduba a horta. Elas devoram quase todo resíduo orgânico, inclusive guardanapos de papel (sem tinta), mas não podem receber alimentos de origem animal, muito gordurosos, salgados, limão, alho, cebola. O que já foi cozido e outros cítricos, apenas em quantidades mínimas.

Embora simples, o manejo do minhocário requer uma certa prática e por isso muita gente desiste. Como tempo, fui percebendo que é uma atividade parecida com cozinhar, em que tudo tem o ponto e a proporção certos. A mistura não pode ficar muito úmida nem muito seca. Os restos “apodrecíveis” precisam ficar embaixo de uma grossa camada de matéria morta (serragem grossa é a melhor opção – e lá vou eu buscar doação em serralherias).  E o ar precisa entrar, pois se o ambiente se tornar anaeróbio a mistura literalmente azeda.

Já errei bastante. No começo as minhocas quase desapareceram por excesso de matéria seca. Depois exagerei nos úmidos e ficou cheiro ruim. Até hoje, basta não cobrir direito para encher de mosquinhas de fruta. O pior foi a invasão de umas lesmas rastejantes que eu achei nojentas até descobrir num vídeo que se tratava da Black Soldier Fly (http://www.google.com.br/search?q=black+soldier+fly&hl=pt-BR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=sF4YUNS2LJG60AGd9YC4Bg&ved=0CFUQsAQ&biw=1024&bih=641). Não são infectantes, mas deixam o composto fedido para caramba e um dia tive que jogar tudo em cima de um plástico para recolher uma por uma e acertar a mistura. Retirei mais de um quilo de lesmas, fiquei com um pouco de ânsia e vivi uma das experiências mais desafiadoras da minha vida. Mais tarde descobri que o sacrifício era desnecessário: bastaria acrescentar mais serragem e trazer um pouco de húmus de outra caixa que as lesmas desapareceriam com o tempo.

Aos poucos fui acertando a mão. A dica salvadora foi sempre deixar 2 cmde húmus no fundo ao iniciar uma nova caixa, assim as minhocas têm onde se refugiar caso haja algum desequilíbrio momentâneo no ambiente. Dizem que o ideal é encher cada recipiente em dois meses, assim dá tempo da decomposição ser total. Só que em casa completo uma caixa em dez dias, pois o volume de resíduos é grande. A solução foi “recompostar”, ou seja, usar no lugar da serragem pura o conteúdo das outras caixas enquanto os resíduos ainda não foram totalmente transformados naquela terrinha úmida e fofa que caracteriza o húmus. Isso aumentou muito a população de minhocas das caixas. E elas parecem muito felizes!

A princípio, a ideia de ter minhocas em casa e enfrentar o processo de decomposição dos resíduos orgânicos provoca uma certa aversão nos urbanóides. Comigo também foi assim. Mas rapidamente me acostumei com o minhocário e transformar lixo em adubo passou a ser uma rotina muito prazerosa. Não tenho nojo nenhum em mexer nas caixas e estou à disposição para ajudar quem está entrando para a turma da minhoca.

Algumas orientações preciosas pesquei nesse vídeo ótimo do permacultor e minhocólogo Claudio Spínola, da Morada da Floresta: http://www.youtube.com/watch?v=RITfvR3NyFw. Ele ensina até a fazer o próprio minhocário em casa.

Ótimo artigo com informações científicas sobre minhocas e agricultura aqui: http://estagiositiodosherdeiros.blogspot.com.br/2014/05/a-minhoca-na-agricultura.html?spref=fb

103. A polêmica das sacolinhas

Respondo aqui questionamentos sobre o sumiço das embalagens descartáveis gratuitas dos supermercados.

Tempos atrás resolvi escrever um post com dicas para facilitar a vida de quem está se acostumando a ir às compras com suas próprias sacolas (http://conectarcomunicacao.com.br/blog/73-sem-medo-de-dizer-adeus-sacolinhas/). E aí, tanto no blog quanto na “vida real”, tenho observado comentários mau-humorados e alguns até ofensivos à turma dos ambientalistas.

Sou totalmente a favor da conversa entre pessoas que possuem diferentes pontos de vista. Acredito que, no encontro respeitoso entre índios de diversas tribos, todos ganham. Os tempos de informalidade e comunicação eletrônica que vivemos, no entanto, pedem ainda mais atenção com as regras de civilidade. Trocando em miúdos: seja bem-vindo ao debate, mas por favor se manifeste com gentileza! Agora, respondendo aos seus questionamentos…

E a maioria da população que tem que pegar ônibus, trem, metrô? Vai carregar caixas? As sacolinhas plásticas não tornam as compras mais leves. E o risco do plástico fino das descartáveis rasgar é maior do que no caso das sacolas duráveis.

O líquido de carnes em contato com tecido ou papelão não irá aumentar o risco de contaminação? Há cerca de 20 anos uso sacolas retornáveis e nunca tive esse problema. Sequer embrulho as carnes com plástico extra. Costumo colocar os “úmidos” todos juntos. Como tenho tanto sacolas de tecido quanto de trama plástica (aquelas tradicionais “de feira”), dou preferência às últimas para as carnes. De vez em quando, lavo todas com minhas próprias mãos e coloco para secar no sol.

E os produtos de limpeza ficarão juntos com os alimentos na caixa?É possível reservar uma sacola exclusivamente para produtos de limpeza. Não preciso fazer isso porque o consumo dos itens químicos na minha casa é bem pequeno (quase tudo dá para limpar com sabão de coco e bastante esfregação). Com as ecobags fica fácil organizar as compras ali na saída do caixa. Enquanto os produtos vão passando pelo leitor do código de barras, já separo cada grupo em uma sacola diferente. Isso simplifica muito o trabalho de guardar em casa. Como prefiro fazer isso pessoalmente, quando há empacotadores tomo o lugar deles.

E o povo vai colocar o lixo aonde? Direto nas ruas? Vai ter condições de comprar sacos de lixo? Realmente, nos locais onde falta urbanização e coleta de lixo decente a coisa complica. Mas a culpa não é da falta de sacolas plásticas. Ao contrário, elas representam riscos extras para a população carente. O governo de Bangladesh foi um dos primeiros a banir as sacolinhas, depois de enchentes devastadoras e muitas mortes devido ao entupimento da rede de esgotos por sacos plásticos. E o pessoal de uma comunidade de Florianópolis criou uma solução brilhante para o lixo orgânico, o mais problemático. É a Revolução dos Baldinhos: http://www.youtube.com/watch?v=NlFFmO-xkBI.

Vocês ecos já estão fora de moda de tanto se acharem. Se não gostam de sacolas plásticas, usem as de tecidos, carreguem bastante peso e contraiam uma lordose. Como disse acima, as sacolas plásticas não deixam as compras mais leves. E, na minha opinião, tornam o transporte mais desconfortável. Nós ambientalistas nem pretendemos estar na moda, muito ao contrário. Fazemos ativismo porque queremos que a sociedade se torne mais justa, com oportunidades de consumo mais igualitárias. Estamos tentando criar uma nova economia, baseada num ciclo virtuoso de geração de trabalho e renda em atividades que melhorem o meio ambiente e as condições de vida de todos os seres, não só os humanos.

Enquanto os barões do varejo negam as sacolas plásticas preocupados com a ecoidiotice ambiental, deveriam também se preocupar com as garrafas PET que são despejadas no meio ambiente. Tem razão! Garrafas PET são um problema ainda pior. Dê uma olhada no que diz a iniciativa Água na Jarra: http://www.aguanajarra.com.br/. Também acho ruim a superconcentração econômica do varejo e dou preferência às lojas menores (de bairro) e à entrega domiciliar de produtos agroecológicos cultivados na minha região. Além disso, evito o consumo de alimentos industrializados, sobretudo os provenientes de grandes corporações.

Então “caros defensores da Terra”, por que não brigam por um melhor saneamento básico em nosso país, por uma melhor coleta seletiva de resíduos sólidos, pelo fim (mas fim mesmo) de todas as embalagens plásticas. Nós estamos fazendo isso. Escrevemos blogs, fazemos campanha, passeata, tentamos conscientizar as pessoas pelo Facebook e até participamos dos Conselhos de Desenvolvimento Sustentável (CADES) dos nossos municípios (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/cades/). Qualquer cidadão pode freqüentar as reuniões. Vamos nessa?

Por que eu tenho que levar embalagens para o supermercado se os políticos e as empresas não fazem a parte deles? Se todos se acomodarem, nunca as coisas vão melhorar. Com que moral cobraremos atitudes mais sustentáveis dos governantes e das empresas se não estamos dispostos a mudar em nada os nossos hábitos?

97. Alquimistas do lixo

Pingente Fênix de lata de alumínio e casca de coco (Arthur Lewis)

No domingo (11/12) vai acontecer, na Vila Madalena, o último Mercado do Beco do ano. Nesse bazar maravilhoso a principal matéria prima é lixo.

Quanto menos compras de Natal, melhor. Se é inevitável dar algum presente, vale a pena ir atrás das obras feitas com sucata pelos artesãos do Mercado do Beco. Fernanda Vaz, a curadora, garimpa há vários anos artesãos que trabalham com o reaproveitamento de sucata. Para ela, não basta o ecologicamente correto e o socialmente justo, as peças precisam ser lindas. E são!

 

Essa flor é uma garrafa pet que não vai para o lixão (Claudia Gianini)

Na edição anterior, que rolou em outubro, convidei minha filha Julieta para conhecer o Mercado do Beco. Ela, que nem sempre se anima com as maluquices verdes da mãe, topou meio arrastada. Chegando lá, ficou eufórica com tanta beleza e está contando os dias até domingo. Além de encontrar bijuterias, móveis, roupas e outros objetos, o evento terá uma programação de espetáculos e oficinas artísticas. Veja abaixo e em http://www.mercadodobeco.blogspot.com/.

 

Horário: das 13h às 21h.
Local: Centro cultural Rio Verde (Rua Belmiro Braga, 119). Fica naquele trechinho perto do Beco do Batman, da Pérola Negra e quase em frente ao Café Aprendiz. Melhor não estacionar na baixada porque quando dá tempestade aquela rua vira um rio. Ou melhor, o Rio Verde, que foi escondido pelo asfalto, reaparece. São Paulo é uma Veneza disfarçada, cidade construída entre rios e riachos posteriormente entubados. Já que entrei em outro assunto, aproveito para indicar as expedições e relatos do grupo Rios e Ruas & Árvores Vivas (no Facebook), que está redescobrindo a bacia hidrográfica paulistana.

85. A próxima revolução industrial

E se todo resíduo se tornasse alimento biológico ou tecnológico? E se deixássemos de usar substâncias tóxicas na fabricação de produtos? Mais do que possível, iniciar a extinção do lixo e dos contaminantes é urgentemente necessário.

O arquiteto norte-americano William McDonough e o químico alemão Michael Braungart (ecologistas desde sempre e hoje cinqüentões) apresentaram seu primeiro projeto em parceria durante a Eco 92. O documento “Hannover Principles” estabeleceu diretrizes de sustentabilidade que continuam muito atuais para as áreas de design e arquitetura (http://en.wikipedia.org/wiki/Hannover_Principles). Entre elas estava a proposta de abolir o lixo. Não reduzir ou reciclar os dejetos, mas acabar de vez com esse conceito.

A ideia deu origem ao livro “Cradle to Cradle: Remaking the way we make things” (Do Berço ao Berço: repensando a maneira como produzimos as coisas). Lançado em 2002, até hoje não tem edição brasileira, algo inexplicável, pois a obra se tornou uma das bíblias do ambientalismo. Depois de ler cada página e perceber meus horizontes mentais se expandindo, resolvi resumir e compartilhar o que eles dizem.

Mc Donough e Braungart começam desfilando os horrores da cadeia produtiva industrial que se baseia na extração de matérias primas da natureza (seja petróleo, metal, minério, planta ou bicho). Geralmente isso ocorre de forma brutal, deixando um rastro de poluição e devastação. E eles não nos deixam esquecer que a maioria das reservas desses insumos caminha para o esgotamento.

Depois os autores nos fazem perceber como é rápido o instante em que desfrutamos dos produtos adquiridos com tanto sacrifício para o meio ambiente. Pense na garrafinha de água mineral, na caixinha de suco, na embalagem dos lápis de cor que em um segundo se tornam sucata. E mesmo aquilo que parece durar bastante em nossas mãos (como sapatos e equipamentos eletrônicos) tem uso por apenas um ínfimo fragmento dos séculos que passarão enquanto se decompõe. Pense na carcaça do computador e no brinquedinho de pilha degradando lentamente no aterro e vazando no ar, solo, lençóis freáticos e cursos d’água substâncias tóxicas como cádmio, mercúrio, chumbo & cia.  

Enquanto isso, o esgoto vai recebendo cargas de antibióticos, hormônios e outros remédios expelidos não só pelas pessoas como também pelos bichos criados em fazendas para fornecer carne, leite e ovos. Acrescente os produtos químicos barra pesada usados pelas indústrias e na limpeza doméstica e está explicado por que esses efluentes se tornam a cada dia mais ameaçadores para a saúde pública.

Voltando ao lixo industrializado, a dupla do Cradle (pronuncia-se “creidol”) desvenda uma série de problemas ligados à forma como a reciclagem é feita atualmente. Eles avisam que os materiais geralmente entram num processo de “downcycling” (deterioração de valor) e muita energia e emissão de gases é necessária para o transporte e transformação da sucata. No caso dos plásticos, por exemplo, diferentes tipos se misturam em piscinas de produtos altamente corrosivos gerando um híbrido de baixa qualidade, num processo que também solta contaminantes. Já o aço puríssimo com o qual são feitas algumas peças dos carros acabam se mesclando a outros metais menos nobres e pigmentos das tintas também gerando poluição e o que sai dali não é mais confiável para colocarem automóveis. Ao projetar um item de consumo, ninguém ainda prioriza o ciclo virtuoso de reutilização, reciclagem limpa e ganho de valor nos processos (upcycling). Tanto a indústria como a esmagadora maioria dos cidadãos prefere o baixo custo imediato e a pseudopraticidade dos descartáveis.

O que fazer então?

Imitar a natureza, onde nada se perde e tudo se transforma. McD+Braun propõem que cada resíduo seja transformado em alimento biológico ou tecnológico. Com os orgânicos (incluindo excrementos), o caminho é a compostagem para gerar adubo. Ou seja, esse material não deveria nunca ir parar nos lixões. Para o restante, as empresas devem redesenhar todo o ciclo de produção prevendo que 100% do que sobra ao final do consumo se torne novamente matéria prima (esse é o sentido da expressão “do berço ao berço”). Pelo caminho, é preciso encontrar substitutos para as substâncias tóxicas que hoje fazem parte dos processos industriais e também da agropecuária sejam aposentadas.

Parece difícil e talvez não seja possível imediatamente, mas isso precisa começar a ser feito. De acordo com os autores, diminuir o lixo em X% ou usar Y% menos veneno é apenas caminhar para o desastre em velocidade um pouco menor.

Para quem pretende aprofundar os conhecimentos ecológicos e está disposto a fazer do desenvolvimento sustentável uma realidade, recomendo três livros que mudaram a maneira como a humanidade vê sua relação com a natureza e os problemas sociais e de saúde:

1)    Silent Spring (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson/1962 http://conectarcomunicacao.com.br/blog/14-rainha-da-primavera/

2)    Small is Beautiful: Economics as if people matered (O pequeno é bonito: economia como se as pessoas importassem), de E. F. Schumacher/1973 http://conectarcomunicacao.com.br/blog/49-beleza-pequeno/

3)    Cradle to Cradle: Remaking the way we make things (Do Berço ao Berço: repensando a maneira como produzimos as coisas), de William McDonough e Michael Braungart/2002

Infelizmente, nossas livrarias não oferecem no momento a edição em português de nenhum deles. Também em inglês, a ótima apresentação de Mc Donough no TED: http://www.youtube.com/watch?v=IoRjz8iTVoo

73. Sem medo de dizer adeus às sacolinhas

Finalmente os supermercados deixaram de oferecer sacos plásticos de graça. Veja como transformar o uso das ecobags num hábito.

Já faz quase duas décadas que levo minhas sacolas para o supermercado. Posso garantir que esse sistema é muito melhor não só para o meio ambiente como para a organização doméstica. E me atrevo a responder as dúvidas mais comuns…

Qual o melhor tipo de ecobag?
A que você usa por muito, muito tempo. Aqui em casa, algumas são mais velhas que meus filhos (ou seja, têm mais de dez anos). A sacola pode ser de lona de caminhão, tecido, plástico, outdoor reciclado, a mesma que sua avó levava na feira. Pode ser hype ou lesada, nova ou velha, discreta ou maluca, grande ou pequena. O importante é andar sempre com elas. O principal problema dessa alternativa é quando a pessoa vira consumidora compulsiva de ecobags, vai acumulando dezenas em casa e nunca as leva para as compras. Fique muito claro que as ecobags usam recursos naturais para serem produzidas e o simples ato de comprá-las não torna ninguém um consumidor mais consciente.

Como faço para não esquecer?
Utilize o mesmo método da escovação de dentes: hábito. Aos poucos, pegar a sacola quando pretende ir ao supermercado passa a ser automático. Enquanto isso não acontece, deixe duas ou três no carro, para garantir. E como não esquecer de levar para o carro? Quando guardar as compras, jogue as sacolas perto da porta, bem no meio do caminho. Ao sair de casa de novo, terá que esbarrar nelas. Aí é só recolher e (se estiver com pressa ou for destrambelhada como eu) atirar dentro do veículo de qualquer jeito.

Dá trabalho?
Sim. Da mesma forma que cultivar relacionamentos, ter filhos, animal de estimação, fazer exercícios, comer direito, comprar ingressos para o show da sua banda preferida. Tudo que é bom na vida demanda investimento. Além de arranjar um lugarzinho na cozinha ou área de serviço para elas (recomendo pendurar), de vez em quando será preciso lavar as sacolas. Também tenho preguiça, mas na minha opinião essa é uma das melhores maneiras de passar a limpo a alma. Quando lavo e penduro no varal as sacolas de compras me sinto muito leve. A cada dois meses mais ou menos, vale a pena economizar uns minutos de TV ou Facebook, arregaçar as mangas e deixar as sacolas tinindo. Não vou fazer propaganda enganosa: de vez em quando elas arrebentam e precisam de reparos com agulha e linha. Outra ótima ocasião para evoluir espiritualmente cultivando a humildade e contemplando o ciclo da vida e das coisas.

Com ecobag demora mais para empacotar no supermercado?
Não. Aliás é bem mais rápido do que usando saquinhos. Eu até prefiro dispensar o empacotador para agrupar de um jeito que simplifica a tarefa de guardar. Separe uma sacola para os gelados e vá juntando as compras de acordo com o armário a que se destina. Não esqueça de colocar no fundo garrafas, latas e itens mais resistentes. Se dividir igualmente o peso entre as sacolas, suas vértebras agradecerão.

Ficarei sem saquinhos para o lixo da cozinha e do banheiro?
De forma alguma. Tudo o que a gente compra — de revista a almofada, do pão de forma de todo dia ao gelo da balada — vem em saco plástico. Vá guardando, sabendo que cada tamanho tem sua função. Aqui em casa está sempre sobrando saco plástico. Se por acaso faltar, minha amiga Juliana Valentini, a inventora do saco de lixo de origami feito com jornal ensina nesse vídeo a resolver o problema: http://www.deverdecasa.com/search/label/Sacolinhas%20pl%C3%A1sticas.

Sacolinhas descartáveis feitas plástico a base de milho ou oxibiodegradável são boas para a natureza?
Não. Trata-se de um produto desnecessário, que vira lixo imediatamente e consome à toa os recursos do meio ambiente. O plástico feito com matéria prima vegetal utiliza um espaço onde poderia haver cultivo de alimentos ou preservação florestal. Já o “oxibio” é ainda pior, pois tem componentes químicos tóxicos. Como se desfaz e vira pó, depois fica impossível recolher o poluente.

Os supermercados estão sendo sacanas porque passaram a cobrar por algo que era de graça?
Não vou entrar nessa discussão, já que estou longe de ser fã das grandes corporações de varejo e de produção de alimentos. Ninguém é obrigado a comprar as embalagens que eles vendem. Nem a frequentar esses locais. Se a postura dos supermercados o incomomoda por essas e outras razões, vá mais à feira, ao mercado municipal e, melhor ainda, torne-se cliente dos distribuidores de orgânicos que fazem entregas em casa. Dicas aqui: http://conectarcomunicacao.com.br/blog/98-diga-adeus-aos-agrotxicos/.

 Pronto: agora é só desapegar dos saquinhos!

  • E aproveite o embalo para dispensar também aqueles que embrulham frutas e legumes tanto no supermercado quanto na feira. Basta pegar na mão os vegetais e levá-los para a balança e depois para casa pelados como vieram ao mundo.
  • Quando seu casamento com as ecobags estiver de vento em popa, escolha a mais bonitinha e a transforme em companheira de shopping center. A atitude vanguardista faz o maior sucesso nas lojas descoladas!

67. Existe plástico verde?

Indústrias de refrigerante disputam na mídia para ver quem tem a garrafa PET mais “ecológica”. Não pensam em oferecer seus produtos em embalagens retornáveis.

Uma matéria do Estadão de 30/3 conseguiu dar nó em meus neurônios. A seção Planeta veio com a manchete “Empresas usam resíduos agrícolas para produzir PET”  (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110330/not_imp699160,0.php) e ali me atolei numa barafunda de conceitos químicos duvidosos. Vamos aos fatos:

– Pepsico anuncia que conseguiu produzir garrafa PET usando 100% de matéria prima vegetal, mas não apresenta patente ou fornece maiores detalhes técnicos, além de recusar entrevista sobre o assunto;

– A mesma empresa diz que a tal garrafa ecológica chegará ao mercado experimentalmente em 2012, sem especificar em que canto do planeta e qual a abrangência da inovação em termos de porcentagem de seus produtos;

– Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET, afirma ao jornal: “É preciso ter cuidado para fazer propaganda de uma coisa que ainda não está na mão”. O próprio Auri (que representa a indústria e portanto está longe de ser um ecoxiita) se surpreende com a insustentabilidade da “plant bottle” produzida pela rival Coca Cola. Ele explica que o bagaço da cana usado para fazer o PET é transportado do Brasil para a Índia, onde fica a fábrica, e, depois que a resina está pronta, o material dá outra volta ao mundo para chegar à fábrica brasileira de embalagem. No transporte, obviamente, toneladas de gases do efeito estufa são lançadas na atmosfera.

Quando eu era criança, tomava refrigerante (apenas nos finais de semana) em garrafas de vidro retornáveis. Elas não geravam lixo, não rodavam o planeta nem demandavam muita energia e ou esquemas mirabolantes para serem recolhidas, lavadas e novamente preenchidas antes de voltar à prateleira do supermercado. Por que será que fabricantes de bebidas não optam por esse caminho retrô, já que dizem estar tão preocupados com a sustentabilidade?

Desconfio que a disputa entre Pepsico e Coca-Cola é só para ver quem consegue parecer mais sustentável na mídia. Ou seja, um campeonato de greenwashing. Provavelmente, o objetivo é aplacar culpas ambientais dos consumidores para que eles possam beber mais e mais refrigerante em embalagem descartável. Sempre bom lembrar que abusar desse produto não faz mal só para o meio ambiente. A saúde também sai perdendo.

Esse excelente post do blog O Tao do Consumo explica detalhes técnicos do “plástico verde”: http://www.otaodoconsumo.com.br/voce-e-o-que-come-na-embalagem-que-consome/o-nome-e-diferente-mas-o-plastico-e-o-mesmo