Meus erros e acertos até conseguir cuidar direitinho das minhocas que transformam o lixo orgânico da minha casa em adubo.
Tenho minhocário desde 2009 e é para lá que vão as sobras da cozinha. O modelo básico, que consiste em três caixas retangulares de 60X40X20 cm, cabe em qualquer apartamento. E existem kits menores. Graças às minhocas, diminuímos muito a produção doméstica de lixo e fabricamos o húmus que aduba a horta. Elas devoram quase todo resíduo orgânico, inclusive guardanapos de papel (sem tinta), mas não podem receber alimentos de origem animal, muito gordurosos, salgados, limão, alho, cebola. O que já foi cozido e outros cítricos, apenas em quantidades mínimas.
Embora simples, o manejo do minhocário requer uma certa prática e por isso muita gente desiste. Como tempo, fui percebendo que é uma atividade parecida com cozinhar, em que tudo tem o ponto e a proporção certos. A mistura não pode ficar muito úmida nem muito seca. Os restos “apodrecíveis” precisam ficar embaixo de uma grossa camada de matéria morta (serragem grossa é a melhor opção – e lá vou eu buscar doação em serralherias). E o ar precisa entrar, pois se o ambiente se tornar anaeróbio a mistura literalmente azeda.
Já errei bastante. No começo as minhocas quase desapareceram por excesso de matéria seca. Depois exagerei nos úmidos e ficou cheiro ruim. Até hoje, basta não cobrir direito para encher de mosquinhas de fruta. O pior foi a invasão de umas lesmas rastejantes que eu achei nojentas até descobrir num vídeo que se tratava da Black Soldier Fly (http://www.google.com.br/search?q=black+soldier+fly&hl=pt-BR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=sF4YUNS2LJG60AGd9YC4Bg&ved=0CFUQsAQ&biw=1024&bih=641). Não são infectantes, mas deixam o composto fedido para caramba e um dia tive que jogar tudo em cima de um plástico para recolher uma por uma e acertar a mistura. Retirei mais de um quilo de lesmas, fiquei com um pouco de ânsia e vivi uma das experiências mais desafiadoras da minha vida. Mais tarde descobri que o sacrifício era desnecessário: bastaria acrescentar mais serragem e trazer um pouco de húmus de outra caixa que as lesmas desapareceriam com o tempo.
Aos poucos fui acertando a mão. A dica salvadora foi sempre deixar 2 cmde húmus no fundo ao iniciar uma nova caixa, assim as minhocas têm onde se refugiar caso haja algum desequilíbrio momentâneo no ambiente. Dizem que o ideal é encher cada recipiente em dois meses, assim dá tempo da decomposição ser total. Só que em casa completo uma caixa em dez dias, pois o volume de resíduos é grande. A solução foi “recompostar”, ou seja, usar no lugar da serragem pura o conteúdo das outras caixas enquanto os resíduos ainda não foram totalmente transformados naquela terrinha úmida e fofa que caracteriza o húmus. Isso aumentou muito a população de minhocas das caixas. E elas parecem muito felizes!
A princípio, a ideia de ter minhocas em casa e enfrentar o processo de decomposição dos resíduos orgânicos provoca uma certa aversão nos urbanóides. Comigo também foi assim. Mas rapidamente me acostumei com o minhocário e transformar lixo em adubo passou a ser uma rotina muito prazerosa. Não tenho nojo nenhum em mexer nas caixas e estou à disposição para ajudar quem está entrando para a turma da minhoca.
Algumas orientações preciosas pesquei nesse vídeo ótimo do permacultor e minhocólogo Claudio Spínola, da Morada da Floresta: http://www.youtube.com/watch?v=RITfvR3NyFw. Ele ensina até a fazer o próprio minhocário em casa.
Ótimo artigo com informações científicas sobre minhocas e agricultura aqui: http://estagiositiodosherdeiros.blogspot.com.br/2014/05/a-minhoca-na-agricultura.html?spref=fb