144. Em defesa das árvores de São Paulo

Esta carta aberta foi enviada ao Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e ao Secretário do Verde e do Meio Ambiente, Wanderley Meira. O texto é resultado do trabalho coletivo do Grupo de Arborização Urbana do Conselho de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura de Pinheiros, do qual faço parte.

As árvores urbanas oferecem inúmeros benefícios à população, sendo um dos principais atuar como filtro para a poluição do ar. Apenas uma árvore em frente a uma residência pode reduzir em mais de 50% a presença de material particulado nos ambientes internos, protegendo a saúde de seus moradores e até evitando mortes. Além disso, as árvores umidificam o ar, ajudam a combater as ilhas de calor e a evitar enchentes, além de melhorar as condições psicológicas das pessoas. Em Nova York, estimou-se que o decréscimo de material particulado do ar retido pela massa árborea por um ano representaria uma economia da ordem de 60 milhões de dólares em gastos de saúde, principalmente em doenças pulmonares e cardiovasculares – para citar um único exemplo de economia gerada ao município graças à arborização. Isso sem falar nas demais vantagens aos cofres públicos geradas pelos outros serviços que são oferecidos pela arborização urbana.

Só que a maior parte dos paulistanos não sabe disso e vê as árvores apenas como produtoras de “sujeira” (as folhas que caem sobre o solo e os telhados), fontes de danos ao “patrimônio” (devido à quebra de calçadas pelas raízes) e potenciais causadoras de acidentes. Atos de vandalismo são comuns, assim como o enforcamento de árvores, que ocorre quando as raízes são cimentadas, e ferimentos ao caule durante o corte da grama.  Somam-se aos maus tratos infringidos pela população as podas mal executadas, tanto pelas equipes terceirizadas a serviço da prefeitura quanto pela Eletropaulo, e temos um cenário de desastre: muitas árvores com risco de queda e a população querendo se livrar da arborização.

Numa floresta, é muito raro cair uma árvore. Numa cidade onde a manutenção é ruim e os cidadãos não possuem educação ambiental, caem árvores aos montes. Ainda por cima, as pessoas colocam a culpa das quedas nas próprias árvores, pois desconhecem que os fatores já citados e o mau planejamento (plantio de espécies inadequadas ao local) são os grandes responsáveis pelos “acidentes”.

A qualidade do ar é uma questão prioritária de saúde pública em São Paulo e por isso está na hora de virar o jogo em relação às árvores da cidade. Embora o plantio de 900 mil mudas seja a meta número 88 da atual gestão, os números ainda são tímidos (apenas 211 mil mudas plantadas até agora). E os resultados, desoladores: devido à falta de manutenção e fiscalização, a maioria dessas mudas jamais se tornará uma árvore adulta.

Alguns exemplos do que vem ocorrendo na cidade:
– Em algumas regiões os plantios são suspensos durante o período seco (que nos últimos anos se estende por quase todos os meses) porque a prefeitura não consegue sequer disponibilizar água nem mesmo para regar as mudas recém-plantadas.

– Milhares de crimes ambientais (sendo o vandalismo, as podas drásticas, o anelamento e o eforcamento de árvores os mais comuns) não são fiscalizados nem punidos.

– Não existem equipes de manutenção da arborização. O projeto-piloto da prefeitura foi descontinuado. Consequentemente,  as mudas não são acompanhadas, o que na maior parte dos casos resulta em sua morte.

– Não há nenhuma iniciativa de educação ambiental relacionada à arborização urbana em curso. Muitos munícipes recusam o plantio de mudas na calçada em frente ao seu imóvel ou destroem as árvores que forem plantadas pela prefeitura. Sem acompanhamento, fiscalização ou punição.

– As equipes a serviço da prefeitura são hostilizadas pelos munícipes que desconhecem boas práticas de jardinagem, como deixar cobertura morta sobre o solo para evitar o ressecamento e compactação. Julgando serem as folhas secas “sujeira”, não deixam os funcionários completarem o trabalho.

– Não há distribuição, ou sequer divulgação, para as equipes de manutenção de áreas verdes do novo Manual de Arborização Urbana, lançado pela prefeitura em janeiro de 2015. As orientações são desconhecidas pelas empresas que executam os serviços.
– Falta diálogo e cooperação entre a Secretaria do Verde o do Meio Ambiente e as Subprefeituras, com regras nem sempre claras para os munícipes, gerando pouca resolutividade em relação às solicitações de podas e queixas de crimes ambientais contra as árvores.

Tem-se falado na criação de um novo Plano de Arborização para a cidade sem que a atual lei que o prevê (LEI Nº 14.186, DE 4 DE JULHO DE 2006)  sequer seja de conhecimento dos gestores. Corre-se o risco de realizar um longuíssimo processo de criação de regras que serão inúteis, caso o suporte e a capacitação básicos às equipes que estão em campo não ocorra.

Mais do que um plano ambicioso, está faltando real vontade de fazer a arborização urbana da maneira que deve ser feita em São Paulo. A começar pelo óbvio: muda que não recebe água morre em poucos dias.

Atenciosamente,
Claudia Visoni, jornalista, ambientalista e conselheira do meio ambiente na subprefeitura de Pinheiros
Joana Canedo, tradutora e conselheira suplente do meio ambiente na subprefeitura de Pinheiros
Madalena Buzzo, administradora de empresas e conselheira participativa na subprefeitura de Pinheiros
Thais  Mauad, médica e professora da Faculdade de Medicina da USP

137. Os bondes do Plano Diretor de SP

Tenho acompanhado um pouco os trâmites do Plano Diretor de SP e minha ignorância sobre planejamento urbano continua quase infinita. Mas percebo que não só a Câmara como também o Facebook virou um campo de batalha em que diversas facções emitem opiniões absolutas e até insultos, muitas vezes desqualificando quem pensa diferente. Nesse cenário confuso os pontos de vista costumam variar de acordo com o bonde em que está embarcado o interlocutor.  Os que já identifiquei até agora são:

BONDE IMOBILIÁRIO – É a turma da construção civil tentando transformar cada metro de terreno num espigão. Deve ter gente honesta e conscienciosa no veículo, mas predomina a impressão de que ele está sendo guiado pelo pessoal que quer lucrar o máximo e o mais rápido possível com a demanda reprimida por habitação na cidade. E depois, é claro, desfrutar a vida em suas coberturas triplex, casas de veraneio e paraísos turísticos pelo mundo afora.

BONDE DA MORADIA – Movimentos populares interessados em habitações decentes subsidiadas no centro expandido, com a demanda justa por dignidade e não passar 4 horas por dia em trânsito. Resta saber se não haverá a especulação imobiliária versão baixa renda, com essas moradias sendo revendidas com ágio ou entrando em esquemas obscuros.

BONDE VERDE – Ambientalistas preocupados com áreas e zonas de proteção ambiental, preservação de nascentes, de mananciais, mais parques e áreas verdes, menos carros nas ruas. É nesse que embarquei.

BONDE DOS REMEDIADOS – Moradores de bairros já estabelecidos, que não querem adensamento, verticalização e eixos de transporte em suas vizinhanças.

O fato é que vivemos na mesma cidade e, se quisermos que ela melhore, cada um precisará ouvir os argumentos dos passageiros dos outros bondes e estar disposto a negociar com eles.

136. Manifesto a favor do ar, da água e do verde de SP

A maior cidade do Brasil vive uma situação-limite em relação aos recursos ambientais. A crise da água é o problema mais evidente no momento, mas também existem crises do ar, do verde e dos resíduos, entre outras, que igualmente podem evoluir para o colapso. O Plano Diretor Estratégico que está sendo apresentado traz (ou mantém) várias conquistas, talvez ainda tímidas, das quais não podemos de forma alguma abrir mão.

Algumas delas:

– O conceito de Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM) e Área de Proteção Ambiental (APA) e, sobretudo, sua disseminação. E é muito importante que planícies aluviais e áreas de nascentes se tornem automaticamente ZEPAM;

– Estabelecimento da Zona Rural ao sul do município. A região de Parelheiros precisa oferecer à cidade água limpa, vegetação densa e de grande porte que amenize os problemas climáticos (regulação do clima local e sequestro de carbono), alimentos orgânicos e turismo ecológico. E não há como cumprir essa missão essencial se lá for instalado um novo aeroporto;

– Pagamento por serviços ambientais para aqueles que mantiverem nascentes e remanescentes florestais. Vale lembrar que foi por meio desse tipo de política pública que Nova York conseguiu escapar de uma crise de abastecimento de água;

– Criação de novos parques e de uma política de arborização efetiva;

– Programa de Recuperação Ambiental de Fundos de Vale;

– Avaliação de impacto das novas edificações nas águas superficiais e subterrâneas da cidade;

– Atenção ao desafio dos resíduos sólidos, focando primeiramente na não geração de lixo. São Paulo tem força para pressionar a indústria a repensar suas cadeias produtivas visando a minimização de resíduos. São Paulo tem força para implantar uma ampla política de compostagem dos resíduos orgânicos, que hoje representam mais de 50% do volume enviados aos aterros sanitários.

Muitas vezes as demandas ambientais são vencidas por interesses econômicos imediatistas que visam um suposto desenvolvimento econômico cujas riquezas em geral são repartidas entre poucos. Por isso é importante lembrar um provérbio indígena:

“Quando a última árvore tiver caído,
…quando o último rio tiver secado,
…quando o último peixe for pescado,
…nós vamos entender que dinheiro não se come.

PARA ASSINAR A PETIÇÃO ONLINE, QUE SERÁ ENTREGUE AOS 55 VEREADORES DE SÃO PAULO, CLIQUE AQUI:  https://www.change.org/pt-BR/peti%C3%A7%C3%B5es/vereadores-de-s%C3%A3o-paulo-aprovem-e-ampliem-as-conquistas-ambientais-do-plano-diretor-de-s%C3%A3o-paulo

133. Pé na lama e fé na vida


 

 

 

 

 

 


 

Sabe o que é isso? A nascente do Rio Iquiririm, no Butantã, sendo reaberta por um grupo de cidadãos que deseja os rios de São Paulo limpos e livres.

(Registro em vídeo aqui: http://vimeo.com/90175873)

Essa crise hídrica da metrópole seria cômica se não fosse trágica, já que a Grande São Paulo é uma espécie de Veneza do planalto, construída sobre milhares de riozinhos e riozões, quase todos canalizados para criar ruas e avenidas. Daqui a 200 anos, se nossa civilização conseguir sobreviver à sinuca ambiental que criou, vamos beber água do córrego do lado de casa e já teremos esquecido aquele hábito ridículo de fazer cocô em água potável.

Enquanto estamos em 2014, um pessoal pensa grande e faz pequenas ações que mostram como a cidade poderia ser melhor e mais feliz se parasse de brigar com a natureza. A reabertura da nascente do Iquiririm foi um desses eventos de urbanismo-hacker que comprovam duas teses sobre utopia: 1) não é um lugar onde a gente chega e sim uma direção a seguir; 2) colocar em prática um sonho coletivo é um bom jeito de ser feliz e conhecer pessoas legais.

Quem explica o que foi feito é a Lu Cury: “Nós represamos a água num lago e o excedente continua caindo na boca de lobo, como antes. Mas o fato da água dessa nascente formar esse lago nesse terreno concretiza pras pessoas a necessidade de cuidar dela e de cuidar do entorno. Sábado tiramos de tudo daí desse charcão: saco de entulho de obra cheio, pneus de moto, de carro, cadeira, prato e cacos de vidro, latinhas, latões, garrafas, madeiras com pregos… Quem sabe agora com o lago fique claro que terrenos não construídos e com vegetação não são lixões a céu aberto.” E eu completo: se um dia houver sensatez e resolvermos renaturalizar os rios da cidade, sinalizar e fazer brotar de novo nascentes que um dia foram soterradas já é um grande adianto.

Na Superação Iquiririm, assim como nos mutirões de hortas comunitárias, tem criança, velho, cachorro, vizinho e gente de todo tipo. Às vezes rola pic-nic, pintura no muro, aula de alongamento, risada, violão. Quando chove e em área de nascente não falta lama para animar a festa. Acho esse tipo de programa infinitamente melhor do que passear no shopping, qualquer game, atração da TV ou das redes sociais virtuais. Sem falar que é tudo grátis e ninguém está nem aí para a roupa que você veste ou seu cargo na firma.

PARA PENSAR, PARTICIPAR, SE INSPIRAR
Iniciativa Rios e Ruas – http://rioseruas.com/

Entre Rios, a urbanização de São Paulo – http://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc

Nas profundezas das águas da cidade (TED de Guilherme Castagna) – http://www.youtube.com/watch?v=T8caDcL4brQ

Chega de fossa (Como tratar o esgoto em casa) – http://www.youtube.com/watch?v=HQMgotBb7FQ

Falando sobre merda (TED de André Soares) – http://www.youtube.com/watch?v=VvleJrOkfGI

Watershed 2.0 (TED de Brock Dolman sobre adaptações urbanas às mudanças climáticas) – http://www.youtube.com/watch?v=Izf6D1LQlFE

Unindo o norte ao sul (entrevista do oceanógrafo Edmo Campos sobre aquecimento global) – http://www.pagina22.com.br/index.php/2013/10/unindo-o-norte-ao-sul/

Mutirões de Hortas Comunitárias em SP

  • Horta das Corujas (próximo à Av. das Corujas, Vila Madalena) – todos os domingos a partir de 10h. Mais infos no bloghttp://hortadascorujas.wordpress.com/
  • Horta do Ciclista (Av. Paulista entre Bela Cintra e Consolação, canteiro central) – primeiro domingo do mês a partir de 12h.
  • Horta da Vila Pompeia (Rua Francisco Bayardo, perto da Av. Pompeia) – todo domingo a partir de 11h com café da manhã comunitário.
  • Horta da Vila Anglo (Praça Antonio Resk, perto da Rua Heitor Penteado) – todo sábado a partir de 10h e terças 9h.
  • Horta do CCSP (Centro Cultural São Paulo, metrô Vergueiro) – último domingo do mês a partir de 9h com café da manhã comunitário.
  • Horta Comunitária do Pq Ipê (Rua Marujada, 53, Campo Limpo, perto do ponto final do ônibus Pq Ipê) – mutirões aos sábados a partir das 8:30
  • Horta do IEE USP – Instituto de Energia e Ambiente na Cidade Universitária. Mutirões a cada duas semanas, sempre aos sábados das 9 às 13hs.
  • Horta da Nascente- mutirões todos os domingos a partir das 16hs. Na Praça da Nascente-av. Pompeia, 2140, esquina com André Casado www.ocupeeabrace.com.br

131. Bem-vindo à Permacultura!

Essa palavra esquisita significa Cultura da Permanência, ou seja, o oposto da insustentabilidade. A permacultura traz muita esperança de conseguirmos fazer uma transição para a sociedade sustentável de forma suave e feliz. Venha!

Explicação mais detalhada sobre como surgiu e o que propõe a permacultura aqui: http://conectarcomunicacao.com.br/blog/99-um-2012-permacultural-para-voc/.

Há alguns meses estou envolvida na organização do Curso de Introdução à Permacultura Urbana da Subprefeitura de Pinheiros. Mal começou e já está se tornando um aglutinador de pessoas em prol de um jeito de viver mais harmônico e um catalizador de iniciativas transformadoras.

Como funciona? Todo mundo pode participar, todos são professores e alunos ao mesmo tempo, teoria e prática estão totalmente integradas.

Quer participar?

129. Happy Hours Urbanas

Segunda-feira tem encontro na Câmara Municipal para tentar entender (e influenciar) o indecifrável Plano Diretor de São Paulo. Burocracias à parte, o bom mesmo está sendo trabalhar nas hortas comunitárias de São Paulo.

Muito tem se falado sobre o novo Plano Diretor de São Paulo. De um lado,  protesta quem acredita que a cidade está sendo (mais ainda) vendida para o mercado imobiliário. Do outro, há os que vêem no plano tentativas de reduzir desigualdades sociais e territoriais, mas sem instrumentos de controle eficientes há sim o risco de a cidade ser (mais ainda) vendida para o mercado imobiliário e  blá-blá-blá.

Para quem não sabe, o PDE (para os íntimos) é um calhamaço de 600 páginas que o executivo entregou ao legislativo para aprovação. Não li nem pretendo ler. Mesmo sabendo da importância do tema, tendo economizar energia ao lidar com ele. Vendo caos por toda a parte, não acredito muito em soluções planificadas e centralizadas. Estou preferindo mergulhar nesse caldo urbano imperfeito e semear umas gentilezas por aí, tentando encontrar frestas no sistema para a cidade literalmente florir e frutificar. E é com isso na cabeça que trabalho como voluntária na Horta das Corujas (Vila Madalena) e Horta do Ciclista (Av. Paulista).

Voltando ao PDE, supostamente o processo foi participativo incorporou as sugestões encaminhadas pelos cidadãos em audiências prévias e pelo site http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/. Eu mesma fiz algumas propostas e não sei o aconteceu com elas e com outras milhares que a galera enviou. Bom, agora está começando uma série de audiências devolutivas (várias temáticas e uma em cada subprefeitura) para explicar isso.

Com a melhor das intenções, os vereadores Ricardo Young e Police Neto convidam para um  encontro na segunda-feira das 18h30 às 21h30 (local: Câmara Municipal) para discutir o Plano Diretor de São Paulo com os coletivos que estão colocando a mão-na-massa para melhorar a cidade. Sim, ainda dá para mexer no PDE.  A discussão vai abordar sobretudo o capítulo Gestão Democrática do Plano Diretor.  Só que eu já li duas vezes o tal capítulo (só esse e já foi mais que suficiente) e ainda não entendi como a população vai participar do plano. Os únicos dados que meus atordoados neurônios conseguiram extrair é que haverá uma Conferência Municipal da Cidade de São Paulo, será criado o Conselho Municipal de Política Urbana, virão mais audiências públicas etc e tal. Mas não sou bom parâmetro de entendimento para burocracia. Na verdade, fico totalmente disléxica diante desse tipo de texto. Vou lá na Câmara segunda-feira em busca de alguma luz.

Falando em luz, enquanto os poderosos se digladiam para abocanhar o direito de construir e lucrar mais, acredito que o acesso aos raios de sol, às árvores, às praças, ao ar puro, ao silêncio e a ver o horizonte são prioritários. Vai ser uma luta conseguir cacos de verde dignidade urbana na selva de concreto.

De resto, faço minhas as palavras do urbanista João Sette Whitacker: “Não acredito muito em planos diretores. Acabam envolvendo um enorme esforço de técnicos bem intencionados, a mobilização de milhares de munícipes, disputas acirradas entre vereadores, mas no fim resultam num compendio de regras urbanísticas que ninguém segue, ou se segue, o faz apenas nas partes que interessam aos setores que transformaram nossas cidades em um palco exclusivo de negócios… Já que a revisão do plano de São Paulo está ai, enviada à Câmara temos que engrossar o esforço dos que se debruçarão sobre ele, para depois, provavelmente decepcionar-nos pelo esforço inútil.“

O bom mesmo vai ser encontrar um monte de gente legal e fazer contatos para fortalecer a rede de pessoas que está se divertindo muito ao tentar transformar a cidade. Aliás, amanhã (sábado) vou capinar um pouco a Horta das Corujas (mapa aqui: http://hortadascorujas.wordpress.com/sobre-a-horta/) e domingo a partir de 12h estaremos trabalhando na Horta do Ciclista (Av. Paulista entre Consolação e Bela Cintra, no canteiro central). Se quiser, apareça!

Dica de leitura para quem quer aprofundar no tema: http://cidadesparaquem.org/blog/2013/8/18/um-plano-diretor-pode-mudar-a-cidade

128. Cidade em Movimento

Uma pesquisa e opiniões de especialistas mostram uma revolução em curso no mundo dos transportes paulistanos. Ao que parece, a Carrocracia está com os dias contados.

Abaixo um resumo (com meus comentários) da pesquisa sobre mobilidade em São Paulo que a Rede Nossa São Paulo encomendou ao Ibope e foi divulgada em 16/09/2013 . Dados completos aqui: https://www.facebook.com/events/606105722766287/

  • Os paulistanos que usam automóvel diariamente (ou quase diariamente) para se locomover são apenas 27%. E basta uma olhada para os espaços públicos para constatar que a paisagem foi totalmente dominada por essa minoria (da qual ainda faço parte).
  • Contando deslocamento por deslocamento, o meio de transporte mais comum é a caminhada (54%) seguida por ônibus (24%), carro (14%), metrô (12%), lotação (9%), trem (8%), moto (3%) e bicicleta (2%).
  • Cerca de 50% das residências paulistanas contam com carro na garagem. Entre as famílias motorizadas, 80% possui apenas um veículo. 17% dois. Os multiveiculares são apenas 3%.
  • 47% dos paulistanos gasta entre 1 e 2 horas por dia para ir e voltar de sua atividade principal. A média chega a espantosos 2h15 se forem computados todos os deslocamentos.
  • Evangelina Vormittag, do Instituto Saúde e Sustentabilidade, lembrou que o modelo rodoviarista é o principal problema ambiental e de saúde de São Paulo. Além da poluição atmosférica (que mata mais do que cigarro por aqui), contribui para ilhas de calor, contaminação do solo, colisões e atropelamentos, sedentarismo forçado e poluição sonora. Para quem se interessa pelo assunto, um evento inteirinho sobre isso na próxima segunda-feira às 18h, na Câmara Municipal. (Inscrições aqui: http://viradadamobilidade.wordpress.com/programacao/palestras/inscricao-mobilidade-urbana-e-qualidade/)

A melhor notícia: o Império do Automóvel está com os dias contados.

  • 79% dos motorizados deixariam o carro em casa se tivessem uma boa alternativa de transporte público. Quanto a isso, tenho observado algo curioso: muitas pessoas que dizem essa frase nunca experimentam fazer seus trajetos cotidianos de ônibus ou metrô. Obviamente, a qualidade geral desse serviço é ruim na cidade. Mas existem horários e percursos muito bem servidos por transporte público e falo isso por experiência própria.
  • 93% são a favor da ampliação das faixas exclusivas de ônibus (86% entre os usuários freqüentes de automóvel). De acordo com Jilmar Tatto, Secretário Municipal dos Transportes, é para lá que vamos. Ele disse: “São Paulo tem hoje 120km de faixas exclusivas para ônibus e pretendemos implantar mais 150 km até 2016. O ideal seria chegar em 460km”. Analisando a fala completa do secretário,  percebi que, tecnicamente, transporte de larga escala seria atribuição do metrô, mas é quase impossível São Paulo chegar perto de Paris, que tem uma estação quase em cada esquina na região central. Vamos quebrar o galho com ônibus mesmo.  E os planos imediatos da prefeitura incluem uma reforma do sistema e até mesmo ações ousadas como um concurso para criação de aplicativos que ajudem o usuário a saber em tempo real quando chegam e para onde vão os ônibus que passam no ponto onde ele está .
  • 56% são favoráveis à proibição total de estacionar no centro expandido, 49% aprovariam o aumento do rodízio para 2 dias na semana e 45% aceitariam de bom grado um imposto sobre os combustíveis para financiar o transporte público.

Podemos comemorar o fato de que boa parte dos paulistanos pretende dar sua contribuição individual em prol de uma melhoria coletiva, não é? Mas a mudança de cultural ainda precisa avançar muito.

“Não dá para pensar em mobilidade sem pensar em habitação”, afirmou Maurício Lopes, promotor do Ministério Público. De acordo com ele, para reduzir a necessidade de deslocamento mais empregos são necessários na periferia e mais habitações populares no centro. Por outro lado, estou acompanhando algumas discussões do Plano Diretor em que associações de moradores de bairros residenciais resistem ao adensamento em torno de eixos de transporte proposto pela prefeitura. Concordo que o tema é polêmico e que as alterações nas normas de uso do solo precisam ser muito cuidadosas. Mas não dá para querer preservar a todo custo quarteirões canadenses em meio a um padrão africano de urbanização. Teremos que negociar, repensar, buscar a melhoria da cidade para todos, o que significa inclusive diminuir a desigualdade territorial.

“Uso bastante transporte público e cada vez mais eu acho de mau gosto sair de casa de carro. Compre seu carro, mas no dia-a-dia deixe na garagem. Melhor usar só no final de semana, para viajar ou em casos especiais”. Quem falou isso foi o próprio Jilmar Tatto.

Estamos ou não num mundo novo? Nem tanto… Enquanto escrevia sobre poluição, ilhas de calor e mudanças culturais, minha vizinha veio pedir que eu derrube uma árvore que está em meu terreno para que as folhas não caiam na casa dela.

Não resisto a acrescentar esse mapa de caminhadas feito pelo pessoal do Sampa a Pé. Vamos nessa, ocupar as ruas sem motores!


125. Vida louca, vida linda

Parece que toda a diversidade humana resolveu visitar a solitária jardineira que cuidava de uma horta na Avenida Paulista em plena terça-feira à tarde.  

Por causa do post anterior, teve gente perguntando se eu ia fechar o blog ou estava com algum problema sério. Nada disso. É que as manifestações de junho trouxeram tanta cacofonia de opiniões que resolvi ficar quieta um pouco.

Para falar a verdade, ultimamente tenho me dedicado mais à agricultura do que à escrita. Descobri que, empunhando a enxada, a gente aprecia o mundo de outra forma, assim como provoca reações diferentes. Sobretudo se a roça em questão fica no canteiro central da Avenida Paulista entre a Consolação e a Bela Cintra: a Praça do Ciclista. Ali, ponto dos mais muvucados na megalópole insana, existe uma horta comunitária desde 12 de outubro de 2012. Trata-se do frágil jardim comestível que, no entanto, já sobreviveu ao Réveillon, à Parada Gay, à guerra entre manifestantes e polícia nos momentos mais tensos dos protestos de junho e a muitos outros encontros de multidões reivindicadoras e anárquicas. Além de cotidianamente servir de abrigo noturno para moradores de rua. Pois bem, a horta nunca foi pisoteada. E a praça ficou muito mais limpa depois que ela chegou.

Um pequeno grupo de voluntários, do qual faço parte, se reveza na manutenção diária. E no primeiro domingo do mês a partir do meio dia acontecem os mutirões, onde nos encontramos para dar um trato mais caprichado na microlavoura e confraternizar.

Hoje, 16 de julho de 2013, uma terça feira qualquer e quase milagrosamente calma, foi a minha vez de cuidar da Horta do Ciclista (http://pt.wikiversity.org/wiki/Horta_do_Ciclista).  Ver a cara das pessoas quando a gente atravessa a Paulista carregando esterco e enxada já vale o programa. Mas o melhor veio depois. Na chegada conversei com uma mineira sorridente que nunca tinha ouvido falar em horta comunitária e ficou maravilhada porque qualquer um pode colher. E pode mesmo! Os manjericões, por exemplo, estão lindos e precisando de uma poda radical. Isso significa que a matéria prima para um belo pesto está ali esperando o cozinheiro aparecer. Vc se habilita?

Enquanto adubava os canteiros, skatistas arrepiavam no cimento. Aí passou um ciclista com máscara antipoluição perguntando se pode plantar cannabis (expliquei que não, pois pode dar rolo e inviabilizar todo o projeto). Mãe e filha sentaram na mureta em clima de contemplação e a três metros dali se acomodou um casal meio punk aos amassos. Quando eles foram embora apareceram duas meninas para fumar cannabis e ofereceram. Agradeci a gentileza, mas declinei alegando estar no serviço. Depois veio um cara oferecendo muda de ora-pro-nobis (recusei porque a planta fica muito grande e é espinhuda demais para uma horta tão pequena). Então ele respondeu que volta lá alguma hora para plantar um lance parecido com malva que não guardei o nome. Uma velhinha investigou várias plantas com cara de conhecedora de horticultura, mas se mandou sem conversa.

Fui até o estacionamento em frente preparar a rega. Essa horta, aliás, só existe graças à boa vontade dos manobristas, que armazenam nosso equipamento em seu minúsculo banheiro (dois baldes, um regador e uma enxada) e ainda liberam a água. Ao destrancar a torneira, a caixa do estacionamento explicou que os noias vão lá toda hora pedir para tomar banho de esguicho. Enquanto isso, a delegação de jovens de Milão que vieram ao Brasil encontrar o Papa Francisco passou cantando e com bandeiras imensas da Itália. Ao mesmo tempo, uma manifestação de um monte de gente vestida de branco (depois descobri que eram médicos querendo garantir a reserva de mercado) fechava a Rua da Consolação.

Luciano Santos, advogado que tem escritório em frente e é um dos principais guardiões da horta, adentrou portando terno e gravata para a gente trocar uma ideia sobre como lidar com as lagartas do maracujá. Sim, em breve teremos borboletas nativas! Atravessei a rua umas 10 vezes carregando água, reguei tudo e missão cumprida. De carro na Paulista vi pelo retrovisor um grupinho PMs circundando uma motociclista acidentada cinco metros atrás. Ela levantou e sacudiu a poeira (ufa, nada grave).

Só mesmo a necessidade de carregar sacos e sacos de adubo me convence a ir dirigindo para a avenida mais famosa da cidade.  E enquanto aguentava o trânsito na volta, só conseguia pensar na loucura e maravilha que é o mundo. Não fiz foto porque sou uma das únicas pessoas desse universo que não anda por aí com máquina e não consegue tirar foto com o celular. A que ilustra o post é dessa horta mágica, alguns meses atrás.

117. Tem horta na Paulista!

Sabe onde é isso? Av. Paulista quase esquina da Consolação.

Sabe o que é isso? O quarto mutirão da Horta Comunitária da Praça do Ciclista (um pedacinho de terra que começamos a cultivar em 12 de outubro). Em 2/12/2012 já deu para colher manjericão e ver tomatinhos aparecendo, além de couves quase no ponto de ir para a feijoada e muitas ervas culinárias crescidas e saudáveis. Nesse encontro especial demarcamos os canteiros, plantamos novidades (como feijão), fizemos pic-nic e aproveitamos a integração com o pessoal da Parada Veg, do Slow food, do Pedal Verde, do Bike Anjo e um monte de gente independente, livre, leve e feliz que apareceu lá para mexer na terra.

O pessoal sempre pergunta: não rola depredação? Não, não rola. A horta está sendo tratada com todo carinho por nós, cidadãos dessa cidade e desse planeta. Plantar comida no canteiro central de uma das principais avenidas dessa metrópole louca é utopia? É loucura? Não, já é realidade e isso é só o começo.

Yes, we can viver uma vida diferente e mais feliz.

(Fotos de Fernanda Danelon)

Para saber mais sobre a Horta do Ciclista: http://pt.wikiversity.org/wiki/Horta_do_Ciclista 

116. As roças de São Paulo

Plantar comida no quintal já é muito bom. Participar de uma horta coletiva em espaço público, simplesmente maravilhoso.

Desde que iniciei minha horta doméstica, há quatro anos, trabalhar a terra coletivamente em plena cidade de São Paulo virou um sonho. Eu duvidava um pouco que fosse possível e não esperava que acontecesse tão cedo. Mas já virou realidade!

Desde julho tenho o privilégio de fazer parte do grupo de voluntários da Horta das Corujas, na Vila Madalena. Está sendo uma experiência incrível, não só de aprendizado sobre plantio, mas principalmente de convivência humana. Nem é preciso mencionar os imensos problemas da metrópole, muito conhecidos por todos, mesmo por quem nunca pisou na pauliceia. Então a princípio o projeto foi visto com certa desconfiança. O terreno é contaminado? A água da nascente (que usamos para regar) está suja? As pessoas vão destruir os canteiros? Não, não e não! A prefeitura deixa? Vai aparecer alguém para ajudar no serviço pesado? Sim e sim! 

Quando eu ainda não plantava, trabalho braçal na roça me parecia algo penoso e desagradável. Não fazia ideia de que pegar na enxada podia fazer tão bem para o corpo, a alma e os relacionamentos. Sequer imaginava que a labuta na terra era tão fértil para o companheirismo e a reconexão com a natureza e o ciclo da vida. E que uma horta é um ímã de gente do bem. Mais detalhes não preciso contar porque nosso blog (www.hortadascorujas.wordpress.com) registra toda a história, desde o comecinho. Basta ler de baixo para cima.

Horta na Paulista?  Em plena avenida mais famosa da megalópole acaba de nascer a Horta do Ciclista. Fica na rotatória entre a Rua Bela Cintra e a Rua da Consolação, um espaço que os ciclistas adotaram como ponto de encontro. Ali não sou das voluntárias mais ativas, apenas participo dos mutirões de plantio em finais de semana. Algumas pessoas que trabalham na região estão se organizando para cuidar da horta no dia-a-dia e o esquema, 100% livre e 50% anárquico, funciona! Tudo na base da camaradagem e da ajuda mútua. Basta um balde (emprestado do prédio em frente) e um pouco de água para manter as plantas vivas até o próximo encontro de trabalho intensivo. Qualquer pessoa pode participar. As dicas estão nessa página wiki: https://pt.wikiversity.org/wiki/Horta_do_Ciclista.  

De novo, a desconfiança inicial foi grande. “Naquele lugar passa tanta gente, o pessoal não vai arrancar e pisotear?”, ouvimos mais de uma vez.  A resposta até agora é não. Os paulistanos estão respeitando esses projetos e, ao que parece, a cidade está preparada para muitas outras hortas coletivas. Que venham elas!

Para quem se interessa por cultivo de alimentos na cidade, mesmo que seja na varanda do apartamento, recomendo o grupo Hortelões Urbanos no Facebook (https://www.facebook.com/groups/170958626306460/).