25. O mar não está para peixe

Más notícias vêm dos oceanos. Por enquanto, reduzir o consumo de peixes e escolher bem a espécie que vai para a panela é uma opção. No futuro, talvez não tenhamos essa possibilidade…

Há mais de 20 anos não como carne vermelha. No princípio, por um motivo egoísta: vontade de emagrecer. Era a década de 80, tempos do “new age” em alta. Li em algum lugar que a carne era muito “yang” e o açúcar, muito “yin”. Inventei uma teoria alimentar maluca e decidi cortar os dois ingredientes do cardápio. Passaram-se 48 horas e eu estava desesperada por um docinho. Passaram-se décadas e a carne não fez falta nenhuma. Acho que nunca gostei, que não preciso disso para viver bem. O que é ótimo, pois os pastos representam um problemão ambiental e me aflige a ideia de ter que comer um colega mamífero.

Abre parênteses: acredito que as pessoas são bioquimicamente diferentes e conheço muita gente que adora um bife. Por exemplo, meus filhos. Compreendo, respeito e, muitas vezes, vou ao fogão preparar carne. Fecha parênteses.

No reino das proteínas animais, restaram para mim peixe, frango, ovos e laticínios (não tolero leite in natura). Durante um bom tempo, dei preferência aos peixes. Foi antes de aparecer no supermercado o frango Korin (sem hormônios e antibióticos, única marca que entra em casa).

Só que, há alguns anos, começaram a surgir notícias alarmantes sobre o massacre que os seres humanos estão realizando nos oceanos. Sem falar na contaminação dos cardumes criados em cativeiro (sobretudo o salmão). Então, com muita tristeza, passei a comer peixe apenas de vez em quando.

Essa semana, o biólogo marinho Marcelo Szpilman, do heróico Instituto Ecológico Aqualung (www.institutoaqualung.com.br), divulgou uma lista das espécies comerciais mais ameaçadas e das que ainda podem ser consumidas, de acordo com o IBAMA e a União Internacional para Conservação da Natureza. Reproduzo aqui. Abaixo coloquei links para outras informações sobre o assunto.

Espécies que não podem ser consumidas
Cação-anjo, raia-viola, peixe-serra, surubim, cioba, badejo-tigre e mero.

Espécies que deveriam ser evitadas
Atum, badejo, cherne, corvina, enchova, garoupa, merluza, namorado, pargo, pescadinha-foguete, sardinha-verdadeira, tainha e vermelho. Cações ou tubarões em geral, mas principalmente cação-mangona e tubarão-martelo.

Espécies liberadas
Abrótea, agulha, albacora, batata, baúna, bicuda, bijupirá, bonito, caranha, carapeba, castanha, cavala, cavalinha, cocoroca, congro, congro-rosa, dourado, galo, linguado, manjuba, michole, olhete, olho-de-cão, pampo, peixe-espada, pescada, piranjica, piraúna, robalo, sororoca, tira-vira, trilha, xáreu, xerelete e xixarro.

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sobre a falta de peixes nos oceanos
http://www.akatu.org.br/central/opiniao/2007/a-fonte-ameaca-secar-o-movimento-pela-culinaria-responsavel/

Veja também o filme infantil “Happy Feet”

Sobre o drama do salmão
http://www.oeco.com.br/todos-os-colunistas/50-frederico-brandini/17089-oeco_12130

6. Livros para devorar

Michael Pollan é o cara. Vale muito a pena ler “O Dilema do Onívoro” e “Em Defesa da Comida”, que ele escreveu para mostrar o que o conteúdo do nosso prato tem a ver com o futuro do planeta.

Toda vez que eu abro a geladeira, escolho um prato no restaurante ou faço a lista de supermercado, estou me intrometendo no que acontece em lugares muito distantes do meu bairro. Nunca fui a Mossoró, no Rio Grande do Norte, mas é por minha causa que lá se plantam melões e mangas. Também ainda não conheço o Chile, mas suas fazendas de salmão foram criadas para atender à minha vontade de comer sushi. O pessoal do Mato Grosso trabalha duro, muitas vezes derrubando floresta, para aumentar as pastagens dos bifes que sirvo para meus filhos.

Pensar na produção de alimentos em escala industrial me deixa bem angustiada. Não gosto de imaginar aviões despejando agrotóxicos, campos de confinamento de gado e aves, montanhas de dejetos, doses maciças de antibióticos e hormônios sendo aplicados nos animais e colheitadeiras gigantes arranhando a terra. Se lembrar disso tudo a cada garfada, perco o apetite. Outro dia, conversando com amigas, ensaiei um comentário a esse respeito quando uma delas disse: “Sobre essas coisas é melhor não pensar”. E o assunto morreu na minha boca. Mas não saiu da cabeça.

Sempre me interessei em saber de onde vem o que coloco no prato. Por isso, O Dilema do Onívoro e em Defesa da Comida, dois ótimos livros do jornalista norte-americano Michael Pollan, foram para mim uma verdadeira viagem no tempo e no espaço. Da pré-história à época das vitaminas sintéticas. Das plantações de milho astecas à granjas de frango que virarão nuggets no jantar das crianças.

Meu amigo Pollan passa longe do estilo sombrio e ameaçador de muitos ativistas ambientais. Ele usa o melhor da objetividade da cultura americana para criar, com o bom humor possível, um amplo painel sobre os avanços científicos, as mudanças sociais e ambientais que foram necessários para alimentar a humanidade a partir da revolução industrial. Em O Dilema do Onívoro, MP investiga com brilhantismo o DNA do brekfast, lunch e dinner dos americanos. E, como nosso cardápio hoje em dia tem muito mais hambúrguer e cookies do que couve refogada e pamonha, muito do que ele retrata se aplica também à realidade brasileira. Pollan — que trabalhou alguns dias numa fazenda alternativa, caçou javali e até comprou um bezerro para fornecer carne ao McDonalds — tem muita história saborosa para contar. Já Em Defesa da Comida é um manifesto contra a neurose de contabilizar calorias e acreditar em modismos pseudocientíficos. Ele propõe buscar nas antigas tradições culturais e nos alimentos in natura a solução para ter mais saúde e deixar um planeta em melhor forma para nossos filhos. Esses livros, na verdade, invadem o território da filosofia, pois defendem o ponto de vista de que os problemas ecológicos atuais são consequência de desprezarmos o caráter sagrado dos alimentos. Vale a pena conferir.

PS – Felizmente, dá para usufruir de alimentos com maior qualidade ambiental, nutricional e ética se a gente se dispuser a estudar o tema e garimpar bons fornecedores. Mas isso é assunto para outra conversa…