4. PETs de estimação

Parei de comprar água mineral. Agora só ando por aí com uma garrafinha PET na bolsa, que toda hora abasteço no filtro de casa.

Cheguei correndo ao cinema, como sempre atrasada. Fazia calor e a sede apertou. Para escapar do gosto clorado que jorra dos bebedouros, tive que encarar a fila da pipoca e adquirir água mineral embalada em plástico PET. Porém, naquele dia, parece que todos tinham resolvido vivenciar suas dúvidas existenciais na escolha entre diversas opções de salgadinho e refrigerante. Grande, enorme ou jumbo? Com ou sem manteiga? Light, zero, diet ou normal? Cartão de débito, crédito, dinheiro ou cheque? Tentando não ficar impaciente enquanto esperava, comecei a pensar nas conseqüências de um ato tão banal como comprar uns goles de água.

Eu estava perdendo o início do filme por um motivo bobo. E teria que gastar dinheiro com algo que, em casa, sai praticamente de graça. Até aí, tudo quase bem. Só que a natureza levaria séculos para decompor a tal garrafinha e isso me deixou angustiada. Lembrei daquelas imagens deprimentes que circulam na internet: montanhas de lixo plástico acumulado nos rios, em lixões, no mar, por toda parte, sufocando animais, estragando a paisagem e disseminando doenças. Um panorama sombrio para o qual eu estava prestes a contribuir. Então resolvi simplesmente não jogar a garrafinha fora. Guardei na bolsa, levei para casa, fiz um refil com água do filtro e passei a andar com meu ela por aí.

Aquela foi a primeira das minhas PETs (ou Potes Eternamente a Tiracolo) de estimação, pois agora evito ao máximo mandá-las para o lixo, mesmo quando reciclável. Viraram minhas mascotes. O líquido que as crianças levam no lanche da escola, por exemplo, vai embalado nas garrafinhas PET, que são de graça, indestrutíveis, superpráticas e nunca vazaram. Guardo em casa uma garrafona de cinco litros para levar nas viagens da família, acompanhada por mais três de 1,5 litro. Elas fazem check-in conosco nos hotéis e aliviam a demanda por água do frigobar. Muquirana como sou, descobri que dá para economizar uma grana com esse método ecológico, sem falar no conforto de refrescar a garganta em pleno congestionamento e não perder tempo sempre que dá sede no meio da rua. Mas a verdadeira vantagem é diminuir pelo menos um pouco o rastro de lixo que a gente vai deixar no planeta de herança para os filhos e netos.

Um destino melhor do que os lixões, sem dúvida, é a reciclagem. Essa alternativa, no entanto, está longe de ser uma solução mágica, pois transportar, limpar e transformar o material consome muitos recursos do meio ambiente. E haja coleta seletiva para tanto plástico! Depois do episódio “sede aguda no cinema”, pesquisei os dados mais recentes divulgados pela ABIPET (Associação Brasileira da Indústria do PET). Assim fiquei sabendo que em 2006 foram lançadas no mercado brasileiro 378 mil toneladas de PET e apenas 51% retornou para reciclagem. Ou seja, uma cordilheira de quase 200 mil toneladas ficou por aí, sujando o país. Na Europa, a preocupação com esse assunto chegou a tal ponto que grupos de consumidores estão reivindicando que os restaurantes parem de vender água mineral e forneçam aos clientes água potável na velha e boa jarra de vidro. Que tal a gente lançar essa idéia por aqui?